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Preservando a vida de quem salva vidas. Um chamado para o suicídio na medicina.

 Preservando a vida de quem salva vidas. Um chamado para o suicídio na medicina.
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jul. 3 - 5 min de leitura
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O suicídio entre médicos é um problema alarmante, que merece uma análise cuidadosa e atenta do sistema de saúde e das instituições de ensino médico. Como destacado em doisestudos publicados em  The Lancet (2021) e National Library of Medicine (2020), as taxas de suicídio entre médicos são desproporcionalmente maiores do que as da população geral, sendo ainda mais pronunciadas entre as médicas e algumas especialidades específicas, como anestesistas, psiquiatras, clínicos gerais e cirurgiões gerais.

Existem vários fatores que contribuem para esta realidade preocupante. Dentre eles, o acesso a meios letais, a pressão constante, a carga horária extensa, o desequilíbrio entre vida pessoal e profissional e a relutância em buscar ajuda por medo das repercussões na carreira e no registro médico.

Questões estruturais no ambiente de trabalho, como excesso de burocracia, interações apressadas com pacientes e falta de tempo para autocuidado, também contribuem para este quadro. Ademais, a exposição contínua a mortes, traumas e o sofrimento humano inerente à profissão são fatores que exigem uma atenção especial.

É imprescindível ressaltar a importância da detecção e intervenção precoces. Infelizmente, muitos médicos são diagnosticados tarde demais devido ao estigma e à discriminação existentes dentro da profissão. Para combater isso, é crucial criar um ambiente onde a busca de ajuda seja normalizada e incentivada, e onde haja serviços de apoio de qualidade prontamente disponível.

O sistema de saúde e as escolas médicas têm um papel crucial a desempenhar na prevenção do suicídio entre médicos. As intervenções devem ser feitas em múltiplos níveis - desde a formação médica, com o desenvolvimento de habilidades de autoconsciência e de enfrentamento, até a reformulação dos processos de trabalho e a redução da carga horária.

As associações médicas e os órgãos reguladores também têm um papel importante. Eles podem influenciar as condições de trabalho e promover intervenções individuais e organizacionais. As políticas regulatórias devem considerar a importância da intervenção precoce e evitar a penalização dos médicos que buscam ajuda para problemas de saúde mental.

A resiliência individual deve ser incentivada, mas é fundamental entender que a solução não está apenas em fortalecer o indivíduo, mas em melhorar o sistema na totalidade. Mudanças significativas nas atitudes profissionais e nas políticas institucionais são necessárias para apoiar os médicos que possam estar precisando de ajuda.

O modelo para essa abordagem pode ser observado na figura abaixo, da publicação Mental illness and suicide among physicians (2021), que destaca os três níveis-chave em que as intervenções voltadas para a saúde mental dos médicos precisam operar: o médico individual, o sistema de saúde, as faculdades profissionais e os reguladores externos. Apesar das intervenções voltadas para os médicos serem individualmente discutidas  neste texto, esse enfoque não deve ser considerado o mais importante. Pelo contrário, há evidências claras de que os médicos, enquanto grupo, não possuem déficit de resiliência e que uma maior concentração em medidas organizacionais é urgentemente necessária.

Portanto, concluímos que, para tratar efetivamente o grave problema do suicídio entre os médicos, é crucial uma abordagem multifacetada que englobe mudanças individuais e sistêmicas, incluindo apoio adequado no ambiente de trabalho, acesso a intervenções precoces e a reformulação das expectativas da sociedade sobre a profissão médica. Assim, conseguiremos avançar na preservação da vida daqueles que dedicam suas vidas a salvar outras.

Dito isso, gostaríamos de reforçar que a Academia Médica, enquanto comunidade, se orgulha em dedicar seu trabalho aos médicos. Estamos juntos nessa jornada de autorrealização, onde nossa missão é entregar conteúdo relevante e oferecer apoio na promoção da qualidade de vida pessoal, científica e profissional de nossos estimados colegas de profissão.

Compreendemos as rotinas, dificuldades e desafios inerentes à vida médica e, portanto, nos posicionamos como parceiros nessa causa, engajados em promover ambientes mais saudáveis e equilibrados, onde o bem-estar do médico é tão valorizado quanto a saúde dos pacientes que ele atende.

Estamos aqui para lembrá-los que vocês, enquanto médicos, não estão sozinhos nessa caminhada. Juntos, podemos trabalhar para combater a epidemia silenciosa do suicídio médico e construir um futuro mais saudável e promissor para toda a comunidade médica. Não apenas por uma questão de dever profissional, mas porque valorizamos cada vida, especialmente aquelas dedicadas a preservar a saúde e o bem-estar de outras pessoas.



Mental illness and suicide among physicians (2021) DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01596-8



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