Um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) baseado em dados relatados por 87 países em 2020 revela altos níveis de resistência a antimicrobianos em bactérias, causando infecções da corrente sanguínea com risco de vida, além de aumentar a resistência ao tratamento em várias bactérias que causam infecções comuns na comunidade.
A edição de 2022 do relatório Global Antimicrobial Resistance and Use Surveillance System (GLASS), publicada em 9 de dezembro, fornece análises das taxas de resistência antimicrobiana (AMR) no contexto da cobertura nacional de testes, tendências de AMR desde 2017 e dados sobre o consumo de antibióticos em 27 países.
O relatório mostra que altos níveis (acima de 50%) de resistência foram relatados em bactérias frequentemente causadoras de infecções da corrente sanguínea em hospitais, como Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter spp. Essas infecções com risco de vida requerem tratamento com antibióticos de última geração, como os carbapenêmicos.
No entanto, 8% das infecções da corrente sanguínea causadas por Klebsiella pneumoniae são atualmente, de acordo com o relatório, resistentes aos carbapenêmicos. Isto aumenta a taxa de falha terapêutica e também o risco de óbito.
Infecções bacterianas comuns estão se tornando cada vez mais resistentes aos tratamentos. Mais de 60% dos isolados de Neisseria gonorrea mostraram resistência a um dos antibacterianos orais mais usados, a ciprofloxacina. Mais de 20% dos isolados de E.coli – o patógeno mais comum em infecções do trato urinário – foram resistentes tanto aos medicamentos de primeira linha (como a ampicilina) quanto a tratamentos de segunda linha (fluoroquinolonas). Embora as tendências de resistência tenham permanecido estáveis nos últimos quatro anos, as infecções da corrente sanguínea por Escherichia coli e Salmonella spp. e as infecções por gonorreia resistentes aumentaram pelo menos 15% em comparação com as taxas de 2017, afirma o documento.
A OMS indica que mais pesquisas são necessárias para identificar as razões por trás do aumento observado da RAM e até que ponto está relacionado ao aumento das hospitalizações e aumento dos tratamentos com antibióticos durante a pandemia de Covid-19. A pandemia também impediu que vários países reportassem os dados de 2020.
Quanto ao consumo de antimicrobianos em humanos, 65% dos 27 países que relataram cumpriram a meta da OMS de garantir que pelo menos 60% dos antibióticos consumidos sejam do grupo de antibióticos 'ACCESS', ou seja, fármacos que são eficazes contra uma ampla gama de infecções comuns e têm risco relativamente baixo de criar resistência.
As taxas de RAM permanecem difíceis de interpretar devido à cobertura insuficiente de testes e à fraca capacidade laboratorial, principalmente em países de baixa e média renda. Para superar essa lacuna crítica, a OMS reitera que seguirá uma abordagem em duas frentes visando a geração de evidências de curto prazo por meio de pesquisas e capacitação de longo prazo para vigilância de rotina.
Tudo isso implicará a introdução de pesquisas nacionais representativas de prevalência de resistência para gerar dados de linha de base e tendências para desenvolvimento de políticas e monitoramento de intervenções.
Referência:
Global antimicrobial resistance and use surveillance system (GLASS) report 2022. Geneva: World Health Organization; 2022. Disponível em https://www.who.int/publications/i/item/9789240062702
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