Uma crença comum a respeito da saúde foi desmistificada por
uma publicação recente na respeitada revista Journal of the American Medical
Association (JAMA). Até um passado recente, o entendimento era de que apenas a
prática constante de exercícios físicos, idealmente realizada diariamente, de
modo a atender as diretrizes da Organização Mundial de Saúde para 150 a 300
minutos de atividade moderada ou 75 a 150 minutos de atividade intensa
semanalmente para adultos, espalhadas em várias sessões curtas, traria benefícios
para a saúde.
Contudo, pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts (MGH) revelaram que alcançar tais objetivos em dias menos frequentes, mas com períodos mais extensos de atividade (como o caso dos "guerreiros do fim de semana") é associado a uma redução de riscos para doenças cardíacas comparável àquela proporcionada por exercícios distribuídos de maneira mais equilibrada ao longo da semana.
O estudo incluiu a análise de dados de 89.573 participantes
do UK Biobank que utilizaram um acelerômetro (dispositivo de rastreamento de
atividade) por uma semana e foram acompanhados por mais de seis anos para o
registro de eventos cardíacos.
Os indivíduos que realizaram menos de 150 minutos de atividade física moderada a intensa semanalmente foram classificados como inativos. Cerca de um terço (33,7%) dos participantes se encaixavam nessa categoria. Aproximadamente 42,2% foram chamados de "guerreiros do fim de semana" ativos (realizaram ao menos 150 minutos de atividade, com mais da metade ocorrendo em um ou dois dias), e 24% eram regularmente ativos (ao menos 150 minutos, com a maior parte da atividade distribuída em três dias ou mais).
O estudo levou em conta fatores que poderiam afetar a
relação entre atividade física e ocorrência de eventos cardiovasculares, como o
consumo de tabaco e álcool. Verificou-se que ambos os grupos ativos
apresentaram uma diminuição significativa no risco de infarto (redução de 27%
para os "guerreiros de fim de semana" e 35% para os regularmente
ativos, em relação aos inativos).
Ao avaliar o risco de insuficiência cardíaca, os "guerreiros do fim de semana" apresentaram um risco 38% menor do que os inativos, enquanto os regularmente ativos tinham um risco 36% menor. O risco de arritmias cardíacas foi 22% e 19% menor para os "guerreiros do fim de semana" e para os regularmente ativos, respectivamente. O risco de AVC foi 21% e 17% menor para os "guerreiros de fim de semana" e para os regularmente ativos, respectivamente.
Entretanto, uma análise mais detalhada dos dados adicionais
do estudo mostrou que aqueles que são regularmente ativos, mas não
necessariamente os que se exercitam somente no fim de semana, apresentam um
menor risco de AVC (20%).
Apesar dos benefícios do uso de rastreadores de atividade do
UK Biobank em comparação com estudos baseados em questionários, esses
dispositivos não são ideais para registrar atividades de fortalecimento
muscular, como levantamento de pesos ou pilates, e outras atividades estáticas
que também são benéficas para a saúde cardiovascular.
A descoberta de que a maneira como a atividade física é acumulada ao longo da semana para a saúde cardíaca pode ser bastante flexível é encorajadora. Isso oferece mais possibilidades para que as pessoas possam ser ativas no momento que lhes for mais conveniente, o que é consideravelmente melhor do que permanecer inativo.😉
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Referência:
Khurshid S, Al-Alusi MA, Churchill TW, Guseh JS, Ellinor PT.
Accelerometer-Derived “Weekend Warrior” Physical Activity and Incident
Cardiovascular Disease. JAMA. 2023;330(3):247–252. doi:10.1001/jama.2023.10875