A utilização de cigarros eletrônicos (ou vaping) surgiu como uma alternativa ao tabagismo tradicional em meados dos anos 2000 e logo se tornou amplamente popular, principalmente entre os jovens.
O vaping causa efeitos danos à saúde, gerando lesões nas vias aéreas e no parênquima pulmonar, sendo a doença que causa essa lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping denominada EVALI.
Sua apresentação clínica inicial pode ser variada e seus sinais e sintomas clínicos inespecíficos, podendo se assemelhar a outras doenças do sistema respiratório. Entretanto, comumente a apresentação clínica inclui os tratos respiratório e gastrintestinal. Como não há teste diagnóstico para a doença, o diagnóstico é realizado com base em aspectos clínicos, sociais e exames complementares.
Esse resumo tem como objetivos caracterizar a apresentação clínica, exames diagnósticos e características histopatológicas da lesão pulmonar decorrente do uso de cigarro eletrônico (EVALI) que vem crescendo na população jovem.
A metodologia consistiu na análise de artigos de revisão, revisão sistemática e metanálises publicadas na base de dados Pubmed entre Janeiro de 2020 e Outubro de 2022, utilizando como palavras-chave “eletronic cigarette” e “lung injury”, totalizando 95 artigos. Destes, 58 foram excluídos após leitura do título e/ou resumo por falta de relevância ao assunto, resultando em 37 artigos. Já estes foram selecionados para leitura completa, mas quatorze deles, por serem pagos, foram excluídos da pesquisa. Sendo assim, 23 estudos foram analisados e incluídos na revisão.
Dados recentes mostram que o uso diário de cigarro eletrônico -principalmente entre jovens de cerca de 24 anos e com predomínio no sexo masculino - tem aumentado desde 2019, sendo necessário analisar o funcionamento e consequências do uso desses dispositivos por conta do grande número de usuários que apresentavam problemas respiratórios.
O funcionamento desse cigarro consiste em converter um líquido com diversas substâncias, e geralmente aromatizado, para vapor através de aquecimento, podendo liberar substâncias como nicotina ou tetrahidrocanabinol (THC) para os pulmões. Relatos de casos relacionam doenças pulmonares, como EVALI, ao uso desses dispositivos, principalmente através de achados radiográficos.
A EVALI é definida como insuficiência respiratória com início dos sintomas em até 90 dias após o uso do cigarro eletrônico, o qual apresenta infiltrados pulmonares em exames radiológicos, ausência de infecção e outras causas para a insuficiência respiratória. Ou seja, é um diagnóstico de exclusão.
É uma doença de rápida evolução, sendo que seu diagnóstico necessita de uma correlação entre aspectos clínicos e histórico social, visto que, atualmente, não existem testes confirmatórios e sua identificação precoce favorece uma oportunidade de melhor abordagem de tratamento e prognóstico.
A apresentação clínica inicial de EVALI varia, sendo seus sinais e sintomas clínicos inespecíficos, podendo se assemelhar a de uma doença infecciosa viral aguda ou outras doenças do sistema respiratório. Entretanto, primariamente e comumente, a apresentação clínica inclui os tratos respiratório e gastrintestinal, tendo um quadro clínico característico por lesão pulmonar induzida, devido ao dano alveolar difuso, hipoxemia por uma inflamação decorrente do cigarro eletrônico.
Os sintomas respiratórios frequentes dos pacientes acometidos por essa doença podem incluir hipóxia, taquipneia, dor torácica, tosse e ocasionalmente hemoptise, enquanto os principais sintomas gastrointestinais consistem em náusea, vômito, perda de peso e mal-estar. Além disso, ao exame físico, achados como taquicardia, taquipnéia e febre são comuns.
Apesar de não haver exames específicos de diagnóstico, o EVALI tende a apresentar leucocitose com predominância neutrofílica e marcadores inflamatórios elevados como ESR, PCR e procalcitonina. Através da radiografia computadorizada, verifica-se usualmente tórax com anormalidades, apresentando opacidades em vidro fosco difusas bilateralmente nos pulmões.
Embora essas opacidades sejam os achados mais recorrentes, o EVALI apresenta uma grande variedade de padrões radiológicos, entre eles pneumonia lipoide, pneumonia eosinofílica aguda, pneumonite de hipersensibilidade e hemorragia alveolar difusa, evidenciando a toxicidade pulmonar dos cigarros eletrônicos.
Além disso, em amostras de biópsia pulmonar podem ser encontrados padrões histopatológicos associados a outras doenças do trato respiratório, como inflamação inespecífica, pneumonia fibrinosa aguda, dano alveolar difuso agudo, pneumonite granulomatosa intersticial e peribrônquica, pneumócitos espumosos ou vacuolados, fibrina intra-alveolar e macrófagos espumosos cheios de lipídios nos espaços alveolares ou intersticiais, sendo esses macrófagos potenciais marcadores de lesão pulmonar relacionada ao vaping.
Dado o exposto, o número de jovens que fazem uso do cigarro eletrônico vem aumentando drasticamente, causando em muitos o EVALI. Seu diagnóstico pode ser realizado a partir de aspectos sociais, sintomáticos, exames de sangue, de imagem e biópsia. Os principais sinais e sintomas são de origem do sistema respiratório e digestório, sendo eles hipóxia, taquipneia, dor torácica, tosse, náusea, vômito, mal-estar, taquicardia e febre.
Além disso, aspectos histopatológicos da doença incluem inflamação inespecífica, pneumonia fibrinosa, dano alveolar difuso, pneumonite granulomatosa intersticial e peribrônquica, pneumócitos espumosos ou vacuolados, fibrina intra-alveolar e macrófagos espumosos, sendo esses macrófagos potenciais marcadores de lesão pulmonar relacionada ao vaping. Como é considerado um diagnóstico de exclusão e de evolução rápida, deve ser primeiramente descartada outras justificativas para a apresentação clínica do paciente.
Texto escrito em coautoria com Caroline Baldasso Vieira, Thainá Mirella Macedo e com orientação da professora dra. Mineia A. S. Malaquias.
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