Sabemos que o Transtorno do Espectro Autismo (TEA) é um transtorno do desenvolvimento que compromete algumas áreas do cérebro relacionado a estrutura e ao seu funcionamento, por isso a dificuldade em estabelecer uma comunicação funcional é comum.
Segundo (Davidson, Richard J, p. 160, 2013), a descrição clássica do autismo envolve uma tríade de sintomas:
- O primeiro grupo de sintoma diz respeito a problemas de interação social, de modo que autistas evitam contato visual, com frequência não respondem quando chamados pelo nome e muitas vezes parecem não estar cientes dos sentimentos de outras pessoas.
- O segundo grupo de sintomas está relacionado com problemas de comunicação, a tal ponto que alguns mal falam, ou falam em tom ou ritmo anormais, repetindo palavras ou frases sem caber o que significam e não conseguindo nem mesmo iniciar uma conversa.
- O terceiro grupo trata de comportamentos estereotipados, como movimentação repetitiva (por exemplo, agitar as mãos ou balançar o corpo) ou rotinas ou rituais específicos, como a necessidade de sempre tomar um gole de leite no inicio de uma refeição e de terminar o prato principal antes de experimentar qualquer acompanhamento.
Ainda segundo os autores, “a pesquisa moderna ampliou a categoria de autismo, passando a incluir o “espectro autista”, o que significa que existe uma ampla variação na gravidade de cada elemento da tríade de sintomas”.
A partir dessas considerações podemos identificar que existem algumas características marcantes em relação ao perfil das pessoas com TEA, como nas interações sociais, no comportamento focalizado e repetitivo e na comunicação. Mas é importante ressaltar que cada pessoa com autismo tem suas especificidades, apesar das características mais conhecidas e marcantes do autismo.
A linguagem no TEA
Quando abordamos sobre a linguagem, como instrumento de comunicação oral, a criança com TEA tem a habilidade de se comunicar, ainda que de forma simplificada e restritiva. Para isso, é importante descobrir, estimular e buscar estratégias alternativas para mediar essa comunicação.
Podemos identificar que o termo funcional é usado reforçar a comunicação de uma forma compreensível. A comunicação funcional não é necessariamente verbal, ela pode ser realizada por algum ato motor, balbucio ou olhar. Para reforço dessa comunicação é importante que ela possa ser bem interpretada para promover o bem-estar e despertar o interesse e a atenção.
Isso deve ser realizado com ação interpretada por meio de estímulos e respostas que precisam ser direcionados e acompanhados por uma proposta de tratamento e atendimento, por intervenções aplicadas por profissionais especializados. Quanto mais cedo forem realizados, tendem a propiciar melhores condições para essas pessoas, junto de seus familiares e nos diversos ambientes sociais, como na escola.
Algumas dicas para melhorar a comunicação com crianças com autismo:
- Fortalecer competências, focar nas habilidades e não idade cronológica;
- Encurtar frases, e falar de forma direta e objetiva;
- Recorrer ao uso de suporte visual e tecnológico;
- Descobrir e conversar sobre os interesses dessas crianças é fundamental;
- Acolher e orientar as famílias é essencial.
A contribuição da equipe multiprofissional
O tratamento por equipe multiprofissional e multidisciplinar e o atendimento precoce para todas as pessoas com deficiência, aqui em questão a abordagem para pessoas com autismo, é garantido pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei Nº 13.146), de 6 de julho de 2015.
A Lei Brasileira de Inclusão garante, “diagnóstico e intervenção precoces, realizados por equipe multidisciplinar”, “oferta de rede de serviços articulados, com atuação intersetorial, para atender às necessidades específicas da pessoa com deficiência”, assegurando, especificamente, diagnóstico e atendimento clínico biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar.
Para Prista (2014), “A convivência com os autistas provoca sensações viscerais nos profissionais disponíveis a atuar com eles, pois é na possibilidade da livre expressão, da disponibilidade a uma linguagem pré-verbal que conseguimos estabelecer fios a serem tecidos no complexo caminho de criar vínculos.”
Autismo e deficiência Intelectual
Segundo dados e informações do Instituto Neuro Saber (2021), ainda que a deficiência intelectual e o autismo possam ocorrer juntos, é preciso entender a diferença entre as duas condições para evitar erros diagnósticos que podem levar a intervenções inadequadas.
A deficiência intelectual (DI) tem como principais características dificuldades nas habilidades cognitivas, como resolução de problemas, raciocínio lógico e compreensão de ideias abstratas. O diagnóstico de DI é realizado de acordo com o quociente de inteligência (QI), que deve ser igual ou inferior a 70.
Já as características mais comuns do autismo se relacionam a dificuldades na comunicação, interação social e comportamentos repetitivos. No entanto, atrasos no desenvolvimento decorrentes da deficiência intelectual podem levar a dificuldades na interação social.
Por isso, o diagnóstico pode ficar confuso, o que faz com que muitas pessoas com autismo sejam diagnosticadas com DI.
Nesse sentido, a utilização de várias estratégias e recursos, assim como a atuação de uma equipe multiprofissional com propósitos de ações interdisciplinares de vários especialistas como de uma equipe médica, o fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e outros.
Cada um desses profissionais dentro de suas especialidades, mas realizando um trabalho de forma integrada por meio de conversas, trocas de informações seguidas de exames, testes e relatórios. Esta proposta, irá fortalecer um atendimento mais assertivo para auxiliar a minimizar as dificuldades apresentadas por cada pessoa com TEA, e melhor compreensão de seus familiares.
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Referências
DAVIDSON, RICHARD J. O estilo emocional do cérebro. Richard J., Davidson e Sharon Begley. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
INSTITUTO NEURO SABER. Qual a diferença entre autismo e deficiência intelectual? Disponível em: https://institutoneurosaber.com.br/qual-a-diferenca-entre-autismo-e-deficiencia-intelectual/#comment-21811 Acesso em: 04 de jan.2022.
PRISTA, Rosa Maria. Autista fala e pensa: um estudo sobre a mediação da maternagem e paternagem. Vínculo [online]. 2014, vol.11, n.2, pp. 31-40. ISSN 1806-2490. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-24902014000200005 Acesso em: 04 de jan.2022.