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CinePsiquiatria #3: Melhor É Impossível

CinePsiquiatria #3: Melhor É Impossível
Eduardo Alcantara
set. 17 - 10 min de leitura
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Olá, novamente leitores! Com alegria que vamos à 3ª edição do #CinePsiquiatria. Esse projeto é uma coluna periódica com recomendação e análise de filmes para os amantes de cinema e psiquiatria. Um trabalho proposto pela equipe da Academia Médica que recebeu grande aceitação e apoio dos leitores da comunidade. Queremos novamente agradecer aos vários comentários e a participação de todos para oferecer uma melhor discussão dos filmes. 

Confira as outras edições do projeto:

No CinePsiquiatria #3 tentarei, na visão da psiquiatria, analisar uma das grandes obras do cinema ocidental, o filme de 1998, do diretor James L. Brooks – o mesmo de Jerry Maguire: Melhor É Impossível.

Pegue sua pipoca e vamos lá!

AVISO DE SPOILER! SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU AO FILME, É RECOMENDADO VOLTAR APÓS O TÉRMINO DA PELÍCULA!

“Você me faz querer ser um homem melhor.” – Melvin Udall

Melhor É Impossível é um filme lançado em 1998, ganhador do Oscar de melhor ator e de melhor atriz, para Jack Nicholson e Helen Hunt, respectivamente. O filme também recebeu mais 5 indicações ao Oscar daquele ano: melhor filme, melhor ator coadjuvante, melhor roteiro original, melhor montagem e melhor trilha sonora, além de ganhar na categoria do Globo de Ouro como melhor filme comédia/musical, melhor atriz em comédia/musical – Helen Hunt e melhor ator em comédia/Musical – Jack Nicholson. Todas essas premiações citadas e indicações já mostram o quão importante é essa obra do cinema.

A película teve ótima avaliação da crítica especializada e foi classificada na posição 140 da revista Empire da lista de "Os 500 Melhores Filmes de Todos os Tempos".

Melhor É Impossível foi estrelado por um elenco de peso:  Jack Nicholson, Helen Hunt, Greg Kinnear e Cuba Gooding Jr., além de ser dirigido por James L. Brooks.

O filme conta a história de Melvin Udall (Jack Nicholson), um escritor de sucesso de Nova York, o artista plástico Simon Bishop e seu amável cãozinho Verdell, a garçonete Carol Connelly (Helen Hunt), a única funcionária de um restaurante que o Melvin diariamente frequenta que o tolera. Melvin é um senhor que vive solitário em seu apartamento, trabalhando em seus livros de sucesso, mas com alguns comportamentos inadequados que acabam afastando as pessoas que o rodeiam. O enredo é composto da exposição dos vários sintomas da doença do escritor Melvin, que no início do filme tinha abandonado seu tratamento e acompanhamento com seu médico psiquiatra, e a repercussão disso em sua vida. 

É interessante notar durante o filme os comportamentos e sintomas do Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC). No caso do personagem de Jack Nicholson os seguintes comportamentos se fazem presentes: 

  • O seu medo de contaminação, por pessoas na rua ou por tocar em objetos fora de sua casa;
  • Melvin abre e fecha a fechadura da porta de seu apartamento várias vezes, contando todas, em um ritual periódico;
  • O fato de terminar um dos seus rituais ligando e desligando as luzes 4 vezes;
  • Nunca usa talheres dos lugares onde vai comer fora de casa, leva os seus de plástico;
  • Constante observação e busca excessiva por simetria e exatidão;
  • O personagem lava as mãos com água quente e  joga fora várias vezes o sabonete "novo", usa somente 1 vez um sabonete para lavar as mãos;
  • Sempre que está andando na rua não pisa em listras, anda olhando para o chão e pisa somente em lugares que escolhe.

Com o lançamento do DSM-5 (5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) o TOC – Transtorno Obsessivo-compulsivo – ganha um capítulo à parte do que era anteriormente  chamado de Transtorno Obsessivo-compulsivo e Transtornos Relacionados, que incluí além do TOC o: transtorno dismórfico corporal, transtorno de acumulação, tricotilomania (transtorno de arrancar o cabelo), transtorno de escoriação (skin-picking), transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado induzido por substância/medicamento, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado devidos a outra condição médica, outro transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado especificado e transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno relacionado não especificado (p. ex., transtorno de comportamento repetitivo focado no corpo, ciúme obsessivo). Anteriormente, o TOC estava relacionado ao capítulo dos Transtornos de Ansiedade. 

Leia mais: Sintoma, doença, síndrome e transtorno: você sabe a diferença?

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O TOC – Transtorno Obsessivo-compulsivo é um transtorno psiquiátrico caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões persistentes e que impactam significativamente na vida da pessoa e merece tratamento especializado. 


O que são obsessões ?

Obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados, de forma persistente no indivíduo.

O que são compulsões ?

De forma resumida, compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que uma pessoa se sente obrigada a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente.[1]

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É importante lembrar que esses comportamentos tais como obsessões  e/ou compulsões não são prazerosas ou voluntárias: são intrusivas e indesejadas. Entretanto é causa de grande sofrimento ou ansiedade na maioria das pessoas que sofrem do transtorno.


 

Segundo dados do DSM-V, mundialmente 1,1% a 1,8% da população é atingida pelo transtorno. Pessoas do sexo feminino têm uma taxa um pouco mais alta do que o masculino na idade adulta, apesar de ser na infância a faixa etária mais afetada.

Nos EUA, a idade média de início desse transtorno é de 19,5 anos, e 25% dos casos iniciam-se até os 14 anos de idade.

O diagnóstico de TOC envolverá o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas que fazem parte de, na maioria dos casos, prejuízo do funcionamento social, profissional e da organização da vida diária, pois alguns casos passam grande parte do tempo nos rituais, ou sofrem muito de ansiedade devido às compulsões e/ou obsessões. Vale lembrar que há diferentes gravidades para o mesmo transtorno, mas que em todos sempre haverá um certo grau de sofrimento mental, por isso a necessidade de avaliação e acompanhamento adequado personalizado para cada caso. Tratando-se de TOC o tratamento incluí avaliação médica psiquiátrica, uso de medicações e, muito importante, acompanhamento psicoterápico. 

Seguem os critérios diagnósticos do DSM-V para TOC:

A.  Presença de obsessões, compulsões ou ambas:

Obsessões são definidas por (1) e (2):

  1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e indesejados e que, na maioria dos indivíduos, causam acentuada ansiedade ou sofrimento.
  2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação.

As compulsões são definidas por (1) e (2):

  1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas.
  2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos.

Nota: Crianças pequenas podem não ser capazes de enunciar os objetivos desses comportamentos ou atos mentais.

B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.

D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência, como no transtorno dismórfico corporal; dificuldade de descartar ou se desfazer de pertences, como no transtorno de acumulação; arrancar os cabelos, como na tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo]; beliscar a pele, como no transtorno de escoriação [skin-picking]’, estereotipias, como no transtorno de movimento estereotipado; comportamento alimentar ritualizado, como nos transtornos alimentares; preocupação com substâncias ou jogo, como nos transtornos relacionados a substâncias e transtornos aditivos; preocupação com ter uma doença, como no transtorno de ansiedade de doença; impulsos ou fantasias sexuais, como nos transtornos parafílicos; impulsos, como nos transtornos disruptivos, do controle de impulsos e da conduta; ruminações de culpa, como no transtorno depressivo maior; inserção de pensamento ou preocupações delirantes, como nos transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos; ou padrões repetitivos de comportamento, como no transtorno do espectro autista).

Especifica-se: 

  • Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são definitiva ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras.
  • Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são provavelmente verdadeiras.
  • Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras.

O personagem Melvin Udall, na reta final do filme, volta a tratar-se com seu médico psiquiatra e a tomar suas medicações corretamente, o que reflete em seu comportamento e em seu desempenho na vida diária! 

CURIOSIDADE:  Em 1998 quando recebeu o Oscar de melhor ator pelo filme Melhor É Impossível, Jack Nicholson fez uma homenagem póstuma  ao ator J.T. Walsh, com quem trabalhara em Questão de Honra e que havia falecido pouco antes da cerimônia.

Espero que tenham gostado da análise. Deixe nos comentários o que você achou do projeto e sugestões de filmes para os próximos #CinePsiquiatria.

Esse foi o post CinePsiquiatria #3.  

 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5). Porto Alegre: Artmed; 2014.
  2. Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed; 2008.
  3. JASPERS, K. Psicopatologia geral. Rio de Janeiro: Atheneu, 1979.
  4. KAPLAN, H.; SADOCK (Orgs). Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 11ª Edição, 2016.

 


Clique aqui para seguir o Dr. Eduardo Alcantara na Academia Médica e para acompanhar o projeto #CinePsiquiatria e os próximos artigos sobre psiquiatria. 

 

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