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Entre ganchos e pernas de pau: a medicina na época dos piratas!

Entre ganchos e pernas de pau: a medicina na época dos piratas!
Gideane Carime
fev. 2 - 5 min de leitura
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Senta que lá vem história...

Na época de ouro da navegação europeia, entre os séculos XVI e XVIII, os mares eram infestados por piratas. Por ser uma atividade muito perigosa, com baixa remuneração e péssimas condições, os médicos não serviam voluntariamente a esses navegadores, diante disso a maioria das tripulações velejavam sem ter um médico presente. Ao contrário do que acontecia com os navios corsários, que possuíam médicos a bordo bem remunerados.  

Quando navio não possuía um médico em meio a tripulação, essa função era passada para outro pirata, quase sempre o carpinteiro ou o cozinheiro do navio. Ao saquear cidades, ou outros navios, os piratas sequestravam o médico presente no local.

Amputações e doenças

Por ser uma profissão perigosa, feridas e machucados de batalhas faziam parte do cotidiano. Em uma batalha era comum encontrar piratas feridos com furos de balas e estilhaços, com cortes provocados por facas, cutelos ou espadas, esmagados por partes destruídas dos navios, com queimaduras por causa de pólvora derramada inflamada, entre outros machucados. 

Era comum que esses machucados infeccionassem,  o que obrigava o “médico” do navio amputar o membro infeccionado para salvar a vida do paciente. 

Ao pensarmos em pirata, imaginamos alguém com perna de pau ou gancho no lugar da mão. Essa ideia se dá em razão de como os piratas foram relatados em alguns clássicos literários. Como o Capitão Gancho, em Peter Pan, ou como em Moby Dick com o Capitão Ahab. Entretanto, essa imagem está longe da realidade da época. Piratas que tiveram algum dos seus membros amputados não voltavam a trabalhar em alto mar, e dificilmente utilizavam essas próteses. 

Apesar dos ferimentos de batalhas serem comuns para os piratas, eram as doenças que causavam a maior parte das mortes. Visto que vivendo tanto tempo em alto mar, os piratas viviam em condições sanitárias críticas, com escassez de água potável e dividindo a comida com ratos, baratas e outros insetos. Era comum encontrar sífilis, escorbuto e doenças tropicais (como febre amarela e malária) na tripulação a bordo do navio. 

Alexander Exquemelin, escritor de The Buccaneers of America, e Lionel Wafer, explorador e corsário galês, são conhecidos como “cirurgiões piratas” e utilizavam  algumas  práticas de cura que aprenderam observando povos nativos durante as visitas em diversos lugares.  

Instrumentos Médicos a bordo do navio

Em 2015, arqueólogos pesquisadores do Departamento de Recursos Culturais da Carolina do Norte, recuperaram alguns artefatos medicinais do navio Queen Anne's Revenge, o navio-almirante do pirata Edward Teach, o temível Barba Negra.  Os equipamentos encontrados indicam que esse famoso pirata prezava em manter sua tripulação o mais saudável possível. 

Entre os itens encontrados estava uma seringa uretral, que era utilizado para tratar a sífilis, injetando mercúrio na uretra masculina. Também foram encontrados alguns restos de bomba de clisteres, usadas para bombear fluido para o reto, permitindo uma absorção mais rápida pelo corpo. 

Os arqueólogos também encontraram uma agulha de prata, algumas tesouras, um pilão e um almofariz (utilizados para moer compostos e remédios) e também um instrumento que os pesquisadores sugerem ter sido utilizados em tratamentos de sangria.

( Seringa uretral, usada para tratar a sífilis. Crédito da foto: Departamento de Recursos Culturais da Carolina do Norte)

(Restos de uma bomba de clister. Crédito da foto: Departamento de Recursos Culturais da Carolina do Norte)

(Almofariz e pilão, feito de latão fundido. Crédito da foto: Departamento de Recursos Culturais da Carolina do Norte)

Antes de ser capturado por Barba Negra, em 1717, o Queen Anne's Revenge era originalmente um navio negreiro francês. Ao tomar o navio, o pirata liberou a maioria dos escravos e tripulantes franceses, mas forçou os três cirurgiões do navio a ficar, junto com um cozinheiro e um carpinteiro. Em 1718, ao tentar entrar em Beaufort Inlet, o navio encalhou ao largo da costa da Carolina do Norte.

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Referências

1.VALLAR, Cindy. Medicine at Sea. Pirates and Privateers: The History of Maritime Piracy, [S. l.], 2007. Disponível em: http://www.cindyvallar.com/medicine.html

2. CANTOS, Mae. PIRATES & PEG LEGS:: A HISTORICAL LOOK AT AMPUTATION AND PROSTHETICS. In: THE PROCEEDINGS of the 14h Annual History of Medicine Days. [S. l.: s. n.], 2005. p. 16-20. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/16854023_The_history_of_rhinoplasty

3. JARUS, Owen. Blackbeard‘s Booty: Pirate Ship Yields Medical Supplies. Live Science, [S. l.], 26 jan. 2015. Disponível em: https://www.livescience.com/49563-blackbeard-pirate-ship-yields-medical-supplies

4. PHOTOS: The Medical Instruments Found on Blackbeard's Ship. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://www.livescience.com/49564-photos-blackbeard-pirate-medical-instruments.html

5. LETRENT, Sarah. Not for the faint of hearties: Blackbeard‘s medical devices. CNN, [S. l.] 29 jan. 2015. Disponível em: https://edition.cnn.com/2015/01/29/living/blackbeard-medical-supplies-feat/index.html

 


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