Alunos com autismo, quando estimulados, demostram várias habilidades para vencer e superar desafios
relacionados a gostos, interesses, afinidades e curiosidades. Apresentam formas
diversas de interagir, se comunicar, se expressar e pensar,. Portanto, precisam
ser mais respeitados dentro de seus perfis aprendentes.
Gostaria de compartilhar
algumas experiencias pedagógicas para fortalecer a comemoração do
dia 2 de abril, “Dia Mundial da Conscientização do Autismo”, celebrado em todo o mundo. A data é
importante para sensibilizar a população e promover a inclusão e o respeito. O objetivo é chamar a atenção para a importância da detecção
precoce, do diagnóstico e do tratamento adequado.
Pela primeira vez, o Censo de 2022 realizou levantamento que aborda o
Transtorno do Espectro Autista (TEA) em seu questionário de amostra. Segundo pesquisas, esse questionário é mais
detalhado e utilizado numa parcela menor da população (11%), equivalente a
amostra de 8,5 milhões de domicílios. A pergunta
está listada com número 17, e sua resposta é para sim ou não.
O autismo é um transtorno neurobiológico que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento dos indivíduos que o possuem. Infelizmente, ainda existe muito estigma em relação ao autismo e muitas vezes as pessoas com essa condição enfrentam barreiras para a inclusão social e educacional.
Robótica Educacional
Este texto é um
recorte de uma experiência pedagógica de
Robótica Educacional
(RE), desenvolvida no Atendimento
Educacional Especializado (AEE) para alunos com autismo, dentro de uma escola
pública no estado de São Paulo. A atividade educacional tem como objetivo
fazer uso da robótica pedagógica como uma metodologia facilitadora nos processos
de ensino aprendizagem. Dentre os benefícios alcançados, a experiência
contribuiu para o fortalecimento cognitivo das habilidades dos alunos
envolvidos no projeto, bem como no impacto positivo relacionados aos aspectos
socioemocionais.
O AEE é uma modalidade de
atendimento que deve ser uma proposta eficiente para complementar a formação de
todos os educandos da educação inclusiva, em relação ao fortalecimento da
autonomia e da promoção do bem estar, para ampliar conhecimentos dentro da
escola e fora dela. Deve possibilitar que esses estudantes transcorram todos
os níveis, etapas e modalidades e disponibilize os recursos e serviço que os oriente
e integre às novas estratégias de aprendizagem.
Destacamos também a
importância do papel do professor na busca constante do desenvolvimento de
novas competências para poder contribuir com o outro, aqui em destaque, alunos
com autismo. Alunos que necessitam ser
estimulados com métodos de ensino e estratégias inovadoras, pois são capazes de
produzir materiais fabulosos e ficam muitos satisfeitos quando são
reconhecidos e valorizados. Com a utilização dos recursos tecnológicos, que
não são poucos, podemos auxiliar esses alunos com ganho significativo de forma
prazerosa e criativa.
O termo “Tecnologia”, - de
origem grega, tekne (“arte, técnica ou ofício”) e por logos (“conjunto de
saberes”) - é utilizado para definir os conhecimentos que permitem fabricar
objetos e modificar o meio ambiente, com vista a satisfazer às necessidades
humanas. Saymour Papert (1985)
observou que a robótica poderia ser trabalhada na sala de aula para desenvolver
o ensino-aprendizagem, que muitas vezes era desenvolvido de forma teórica e
pouco prática.
Lovato (2018), relata que muitos
professores imaginam que toda aprendizagem é inerentemente ativa. Consideram
que, enquanto o aluno participa assistindo uma aula expositiva, ele está ativamente
envolvido. Contudo, pesquisas da ciência cognitiva apontam que os alunos devem
fazer algo mais do que simplesmente ouvir para que a aprendizagem seja efetiva (Meyers
& Jones, 1993).
Segundo pesquisas, atualmente a RE é considerada uma ferramenta pedagógica que utiliza vários recursos para construção de robôs com dispositivos eletrônicos para estimular o aprendizado e o interesse dos alunos em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). A STEM nada mais é que uma sigla para Science, Technology, Engineering and Mathematics. Mais precisamente esse termo se refere a um currículo baseado na ideia de educar estudantes nessas quatro áreas em uma abordagem interdisciplinar e aplicada.
Experiência
pedagógica de RE no AEE para alunos com autismo
Atividades desenvolvidas: Concepção
e construção de robôs e carrinhos, com ou sem a utilização de mecanismos automáticos
e circuitos integrados.
Material utilizado: Kit (Modelix – Robotics), material que estava no acervo da
escola (material antigo).
Estratégias de aprendizagem:
- Apresentar os materiais para
os alunos; separar as peças; explicar sobre os circuitos; estimular a
elaboração de construções; aguçar a curiosidade, a criatividade e a
inventividade, levantando e testando hipóteses; e fortalecer a promoção de um
trabalho colaborativo;
- Promover
noções de polo negativo e positivo de uma pilha para realizar movimentos simples
(hélice) ou complexos (carrinho em movimento);
- Estimular a coordenação motora (principalmente a fina), lateralidade e a percepção sensorial para aperfeiçoar
habilidades de encaixar e rosquear. Estímulo sensorial, pois ao rosquear parafusos e
porcas, estas apresentam texturas e formatos diversos à serem explorados pelo
tato.
Foto
01-
Rosquear parafusos e porcas
Fonte: Arquivo pessoal
Foto
02-
Criatividade e ludicidade nomeando o personagem (lego) e o carro por meio de
uma história.
Fonte: Arquivo pessoal
Foto 03 - Fortalecer noções de polo negativo e positivo de uma pilha
Fonte: Arquivo pessoal
Foto
04 –
Oficina de robótica organizada no pátio da escola para todos os alunos
Fonte:
Arquivo pessoal
Assim, a RE precisa ser cada vez mais utilizada em escolas e instituições de ensino
como uma metodologia ativa de aprendizagem, inovadora, criativa e diversificada
para todos os alunos. Uma proposta educacional, que tem o potencial de
transformar a forma como os alunos aprendem e se relacionam com a tecnologia e pode
ajudar a reduzir as desigualdades educacionais e oferecer oportunidades para
que todos os tenham acesso à tecnologia e ao conhecimento em STEM.
"Você não pode ensinar as
pessoas tudo o que eles precisam saber. O melhor que você pode fazer é
posicioná-los onde eles podem encontrar o que eles precisam saber quando
precisam saber." (Seymour Papert)
Referências:
PAPERT, Seymour. LOGO:
Computadores e Educação. Tradução e prefácio de José A. Valente. São Paulo:
Editora Brasiliense.1985.
PAPERT, Seymour. A Máquina
das Crianças: Repensando a Escola na Era da Informática. Porto Alegre:
Artmed Editora. 2008.
Lovato, Fabricio Luís, Angela Michelotti, and Elgion Lucio da Silva Loreto. "Metodologias ativas de aprendizagem: uma breve revisão." Acta Scientiae 20.2 (2018).
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