A urgência da saúde mental na pandemia é uma temática em alta e que não pode sair de cena tão cedo. A COVID-19 é uma das maiores crises sanitárias da história e, além das inúmeras perdas de vidas humanas em decorrência do vírus, esse momento delicado trouxe à tona o medo da fome, do desemprego, as desigualdades no acesso à saúde e a vacina, as vulnerabilidades acentuadas de grupos como as mulheres gestantes e outros grupos, e as incertezas que geram tanto estresse, sofrimento e ansiedade.
Mesmo antes da pandemia, saúde mental é um tema que exige prioridade. Ela é um direito no Sistema Único de Saúde (SUS) que, de acordo com o artigo 196 Constituição Federal de 1988 determina que “a saúde é um direito de todos e um dever do Estado e deve ser garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
Apesar da existência da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e dos serviços e equipamentos de saúde que funcionam de forma integrada para proporcionar o acesso à saúde mental de forma gratuita, a pandemia é um momento que gera muitas reflexões sobre os avanços e retrocessos nessa área. Não há como entender a saúde mental na pandemia sem considerar as especificidades e impactos deste momento na vida de grupos distintos como:
Profissionais de saúde em exaustão mental e burnout;
Pessoas em maior situação de vulnerabilidade social;
Mulheres que, em meio à pandemia passaram a sofrer ainda mais com a violência doméstica, a sobrecarga emocional e a carga de trabalho excessiva (seja no home office, no exercício da maternidade, no trabalho fora de casa e no ambiente doméstico);
Pessoas que passaram a desenvolver hábitos como uma válvula de escape e que trazem danos à saúde mental;
Crianças e adolescentes que passaram a ter o convívio social limitado, entre outros.
Como esse é um texto breve, não trataremos dessas especificidades agora. Porém, é importante reforçar que para que as pessoas consigam viver na prática o conceito de saúde definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946 como “Um estado de completo bem-estar, físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade, existe a necessidade de reforçar as políticas públicas de cuidado em saúde mental, iniciativas e projetos que tragam ações práticas para que esse tema não seja apenas divulgado, como também seja vivido.
Por isso, precisamos falar sobre saúde mental na pandemia e além dela. Além das campanhas sazonais como as promovidas no Setembro Amarelo (mês de combate ao suicídio) e Janeiro Branco, por exemplo. Reconhecemos a importância dessas campanhas, mas quando pensamos na importância do comunicar é importante considerar os impactos da informação e comunicação em saúde na criação de espaços de escuta, redes de apoio, acolhimento e até mesmo iniciativas de treinamento para o profissional em saúde.
Inclusive, vale reforçar que cientistas na área de comunicação e saúde como Araujo e Cardoso (2007) defendem que o direito à comunicação é indissociável ao direito à saúde.
Neste cenário, lançamos um desafio para a comunidade: como profissionais da saúde, com foco em psiquiatria e psicologia e demais profissões do cuidado podem falar sobre o assunto em parceria com profissionais da comunicação e informação em saúde?
Sua opinião é importante. Nos ajude no debate sobre o tema, deixe seu comentário!
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Referências
ARAUJO, Inesita Soares de; CARDOSO, Janine Miranda. Comunicação e Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007.
BRASIL. Constituição Federal (Artigos 196 a 200) Seção I. Disponível em:http://conselho.saude.gov.br/web_sus20anos/20anossus/legislacao/constituicaofederal.pdf. Acesso em 20 de fevereiro de 2022.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde mental e a pandemia de Covid-19. Disponível em: Saúde mental e a pandemia de Covid-19 | Biblioteca Virtual em Saúde MS saude.gov.br. Acesso em: 20 de fevereiro de 2022