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Associações genéticas entre endometriose e distúrbios mentais

Associações genéticas entre endometriose e distúrbios mentais
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ago. 7 - 4 min de leitura
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A endometriose, uma condição extremamente dolorosa e complexa que afeta cerca de 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo, é historicamente compreendida e tratada como uma doença ginecológica. No entanto, um estudo publicado na revista JAMA Network Open fornece evidências convincentes de que a endometriose é uma doença sistêmica, com ligações genéticas não apenas com a dor crônica que causa, mas também com transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade e transtornos alimentares.

Os pesquisadores da Yale School of Medicine, analisaram dados do UK Biobank que incluíam mais de 8.200 pacientes com endometriose e 194.000 controles saudáveis. Eles descobriram que as mulheres com endometriose tinham uma maior probabilidade de ter depressão, ansiedade e transtornos alimentares, mesmo após o ajuste para dor crônica, status socioeconômico, idade, índice de massa corporal, medicações diversas e comorbidades.

De forma notável, a pesquisa identificou uma correlação genética de alta significância entre a endometriose e cada um desses três distúrbios psiquiátricos. Um variante genético específico, denominado DGKB rs12666606, mostrou-se compartilhado entre a endometriose e a depressão. Este é um gene particularmente relevante, uma vez que se encontra fortemente expresso em várias regiões do cérebro, além do tecido reprodutivo feminino. Essas descobertas contribuem para uma compreensão mais profunda da complexidade da endometriose.

Esses achados são essenciais para mudar a percepção sobre a endometriose e sua gestão clínica. Por muito tempo,  foi vista de maneira estreita como uma doença do sistema reprodutivo feminino e as pacientes eram frequentemente tratadas apenas quando apresentavam infertilidade. A noção equivocada de que os sintomas eram o produto de "pessoas ansiosas reclamando de dor que todas as mulheres têm" contribuiu para um diagnóstico inadequado e subtratamento de inúmeras pacientes.

O referido estudo, intitulado Epidemiologic and Genetic Associations of Endometriosis withDepression, Anxiety, and Eating Disorders, enfatiza a necessidade dos médicos em considerarem a endometriose em uma perspectiva mais ampla, levando em conta as várias manifestações sistêmicas da doença. Isso é especialmente relevante, frente as descobertas de que o risco de distúrbios do humor é uma componente da patofisiologia subjacente da endometriose.

Este estudo é um marco significativo, e caminha na direção de uma maior conscientização sobre as manifestações abrangentes da endometriose, destacando a necessidade de uma abordagem mais compreensiva e sensível para o diagnóstico e tratamento dessa condição debilitante. As descobertas evidenciam que a endometriose está associada à saúde mental da mulher por mecanismos pleiotrópicos, o que significa que um único gene ou conjunto de genes pode afetar várias características, ou funções.

Esta é uma importante chamada ao reconhecimento que a endometriose não é apenas uma doença reprodutiva, mas uma doença sistêmica, com processos genéticos e fenotípicos subjacentes que influenciam as comorbidades psiquiátricas, requisitando, assim, um tratamento multifacetado.

Para nosso conhecimento, este é o primeiro estudo em larga escala a fornecer tais evidências, o que reforça a necessidade de uma perspectiva mais integrada ao abordar o tratamento da endometriose, buscando além do cuidado físico, a atenção à saúde mental das pacientes.



Leia também: 


Referências: 

  • Koller D, Pathak GA, Wendt FR, et al. Epidemiologic and Genetic Associations of Endometriosis With Depression, Anxiety, and Eating Disorders. JAMA Netw Open. 2023;6(1):e2251214. doi:10.1001/jamanetworkopen.2022.51214

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