A associação americana de gastroenterologia (AGA) publicou recentemente um Update para o diagnóstico e manejo da gastrite atrófica (lesão comumente reconhecida como pré-neoplásica). Devido as dificuldades de padronização dos critérios diagnósticos essa atualização tem como objetivo prover uma referência para que os médicos possam diagnosticar e manejar essa doença de maneira otimizada.
Os principais achados e recomendações dessa atualização foram apresentados em 12 tópicos que norteiam o que seriam as boas práticas clínicas relacionadas à doença. Confira a seguir os conselhos da AGA:
Recomendação 01
A gastrite atrófica é definida como a perda das glândulas gástricas, com ou sem metaplasia, no contexto de inflamação crônica principalmente devido à infecção por Helicobacter pylori ou processos autoimunes.
Independentemente da etiologia, o diagnóstico de gastrite atrófica deve ser confirmado pela histopatologia.
Recomendação 02
Os profissionais de saúde devem estar cientes de que a presença de metaplasia intestinal na histologia gástrica quase sempre implica no diagnóstico de gastrite atrófica. Deve haver um esforço coordenado entre os médicos gastroenterologistas e os patologistas para melhorar caracterizar a extensão e gravidade da gastrite atrófica, particularmente se houver atrofia acentuada.
Recomendação 03
Os médicos responsáveis pelo atendimento do paciente devem reconhecer as características endoscópicas típicas de gastrite atrófica, que incluem aparência pálida da mucosa gástrica, aumento da visibilidade da rede de vasos devido ao adelgaçamento da mucosa gástrica e perda das pregas gástricas e, se possuem metaplasia intestinal concomitante. Como essas alterações da mucosa costumam ser sutis, técnicas para otimizar a avaliação da mucosa gástrica devem ser realizadas sempre que possível.
Recomendação 04
Quando os achados endoscópicos forem compatíveis com a gastrite atrófica, os provedores devem avaliar a extensão dessas lesões no momento do exame. Os médicos devem obter biópsias das áreas suspeitas de atrofia/metaplasia para confirmação histopatológica e estratificação de risco; no mínimo, biópsias do corpo e antro/incisura devem ser obtidas e colocadas em frascos etiquetados separadamente. Além disso, biópsias direcionadas devem ser obtidas de qualquer outra anormalidade da mucosa.
Recomendação 05
Em pacientes que possuam achados compatíveis com gastrite autoimune ao exame histológico, os médicos devem considerar a verificação de anticorpos de células antiparietais e anticorpos de fator anti-intrínseco para auxiliar no diagnóstico. Os médicos também devem avaliar se há anemia por deficiência de vitamina B-12 e ferro.
Recomendação 06
Todos os indivíduos com gastrite atrófica devem ser avaliados para infecção por H. pylori.
Se positivo, o tratamento para erradicação da H. pylori deve ser administrado e a eliminação da bactéria deve ser confirmada usando modalidades de testes não sorológicos.
Recomendação 07
O intervalo de tempo ideal para realização de novo exame endoscópico em pacientes com diagnóstico estabelecido de gastrite atrófica não está bem definido e deve ser decidido com base na avaliação de risco individual e na tomada de decisão compartilhada.
Uma endoscopia de vigilância a cada 3 anos deve ser considerada em indivíduos com gastrite atrófica avançada, definida com base na extensão anatômica e grau histológico.
Recomendação 08
O intervalo de tempo para realização de nova endoscopia para uma vigilância ideal em indivíduos com gastrite autoimune não está claro. A vigilância endoscópica de intervalo deve ser considerada com base na avaliação individualizada e na tomada de decisão compartilhada.
Recomendação 09
Os profissionais de saúde devem reconhecer a anemia perniciosa como uma manifestação em estágio avançado de gastrite autoimune, caracterizada por deficiência de vitamina B-12 e anemia macrocítica. Pacientes com um novo diagnóstico de anemia perniciosa que não tiveram uma endoscopia recente devem ser submetidos a endoscopia com biópsias topográficas para confirmar gastrite atrófica predominante no corpo do estômago para estratificação de risco e para descartar neoplasia gástrica, incluindo tumores neuroendócrinos.
Recomendação 10
Indivíduos com gastrite autoimune devem ser rastreados para tumores neuroendócrinos gástricos do tipo 1 com endoscopia digestiva alta.
Tumores neuroendócrinos pequenos devem ser removidos endoscopicamente, seguido por endoscopia de vigilância a cada 1–2 anos.
Recomendação 11
Os médicos devem avaliar as deficiências de ferro e vitamina B-12 em pacientes com gastrite atrófica, independentemente da etiologia, especialmente se houver predomínio das lesões em corpo gástrico.
Da mesma forma, em pacientes com deficiência de ferro ou vitamina B-12 sem causa aparente, a gastrite atrófica deve ser considerada no diagnóstico diferencial e a avaliação diagnóstica apropriada deve ser realizada.
Recomendação 12
Em pacientes com gastrite autoimune, os médicos devem reconhecer que distúrbios autoimunes concomitantes, particularmente doença autoimune da tireoide, são comuns. O rastreamento de doenças autoimunes da tireoide deve ser realizado.
Os médicos devem reconhecer a gastrite atrófica como uma doença importante, embora frequentemente subdiagnosticada, com manifestações gástricas e extragástricas. Pacientes com gastrite atrófica grave devem ser considerados para vigilância endoscópica para fins de detecção precoce do câncer gástrico e podem exigir considerações adicionais de manejo, incluindo atenção às deficiências de micronutrientes, particularmente de ferro e vitamina B-12.
Leia outros artigos da Academia Médica
Quer escrever?
Publique seu artigo na Academia Médica e faça parte de uma comunidade crescente de mais de 215 mil médicos, acadêmicos, pesquisadores e profissionais da saúde. Clique no botão "NOVO POST" no alto da página!
Referências
- Shah SC, M. Blanca Piazuelo, Kuipers EJ, Li D. AGA Clinical Practice Update on the Diagnosis and Management of Atrophic Gastritis: Expert Review. Gastroenterology [Internet]. 2021 [cited 2021 Sep 2];0(0). Available from: https://www.gastrojournal.org/article/S0016-5085(21)03236-4/fulltext
Conteúdo elaborado por Diego Arthur Castro Cabral