Cerca de 12 milhões de novos casos de sífilis são
registrados a cada ano no mundo. A doença, causada pelo Treponema pallidum, tem
como principal tratamento a penicilina. Porém, ela representa um desafio devido
ao registro de um grande número de reações alérgicas e baixa tolerância.
Na tentativa de solucionar a questão, recentemente foi realizado
um estudo de revisão sistemática e metanálise de dezessete ensaios clínicos randomizados
e estudos observacionais para analisar a eficácia e segurança dos medicamentos ceftriaxona,
eritromicina, minociclina, tetraciclina e doxiciclina em comparação com a penicilina.
No total, foram incluídos 4.485 pacientes com idades entre 14 e 80 anos, com sífilis
em todos os estágios (primária, secundária, terciária, latente ou congênita).
Os artigos apresentaram as taxas de resposta sorológica em
diferentes períodos após o uso dos medicamentos, sendo que três também
relataram a segurança dos tratamentos. Estes informaram sobre reações adversas
causadas pela penicilina e ceftriaxona em 359 pacientes, sendo as principais a
Jarisch-Herzheimer (reação inflamatória febril), especialmente após o uso da
ceftriaxona, e a alergia à penicilina.
Foi constatada a hipótese de que as reações de
Jarisch-Herzheimer podem estar relacionadas à rota e intervalo de administração
da droga, visto que injeções intramusculares e intervalos curtos parecem mais
propensos a induzir essas reações. Porém, mais estudos clínicos são necessários
para avaliar a segurança.
Sobre as taxas de resposta ao uso dos medicamentos, foram obtidos
os seguintes resultados em ordem decrescente de eficácia: ceftriaxona,
penicilina, tetraciclina, eritromicina e doxiciclina. Entretanto, não houveram
diferenças estatísticas na resposta sorológica entre esses cinco antibióticos
no seguimento de doze meses.
O tratamento utilizando ceftriaxona apresentou taxa de
resposta sorológica um pouco melhor em relação à penicilina em seis meses, sendo
que resultados sugerem que a ceftriaxona pode ser o antibiótico com maior taxa
de resposta. Além disso, como resultado de um dos subgrupos, ceftriaxona
mostrou-se como um tratamento melhor do que a penicilina para o tratamento de
neurossífilis, porém sem significância estatística. O antibiótico apresenta
maior lipossolubilidade e maior penetração nos tecidos e nas membranas extracelulares
quando comparado a outros antibióticos, permitindo que atravesse rapidamente a
barreira hematoencefálica e mantenha sua concentração efetiva por mais tempo
para matar o Treponema pallidum.
A ceftriaxona também é considerada pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) a opção ideal para mulheres grávidas com infecção por Treponema pallidum
para o tratamento da sífilis, enquanto a doxiciclina não deve ser usada durante
a gestação devido a seus efeitos colaterais.
De modo geral, o estudo mostrou que ceftriaxona é mais
efetivo do que penicilina para o tratamento da sífilis após seis meses, mas sua segurança seria mais baixa. Porém, quando a penicilina não está disponível ou o
paciente apresenta alergia, a ceftriaxona é tida como um tratamento alternativo
bastante eficaz.
Referência:
Liu M, Fan Y, Chen J,
Yang J, Gao L, Wu X, Xu X, Zhang Y, Yue P, Cao W, Ji Z, Su X, Wen S, Kong J, Zhou G, Li
B, Dong Y, Liu A, Bao F. Efficacy and Safety of Treatments for Different Stages of
Syphilis: a Systematic Review and Network Meta-Analysis of Randomized Controlled
Trials and Observational Studies. Microbiol Spectr. 2022 Nov 15:e0297722. doi:
10.1128/spectrum.02977-22. Epub ahead of print. PMID: 36377935.
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