Má alimentação, sedentarismo, obesidade e fatores hereditários são agentes conhecidos de risco para o Diabetes Mellitus tipo 2. Porém, uma equipe da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, conduziu um estudo que relacionou a doença com material particulado presente na poluição atmosférica.
De acordo com a pesquisa, publicada na revista científica The Lancet Planetary Health, em 2018, 14% dos casos de diabetes registrados no mundo em 2016, ou seja, 3,2 milhões de pessoas, desenvolveram diabetes tipo 2 relacionada à poluição do ar. Apenas nos Estados Unidos, observa o estudo, a contaminação atmosférica levou ao surgimento de 150 mil novos casos da doença em 2016.
Para chegar às conclusões, os cientistas examinaram uma coorte longitudinal de 1.729.108 americanos durante oito anos. As informações obtidas foram cruzadas com os dados das partículas encontradas no ar, coletados pela NASA e pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês).
Os pesquisadores examinaram uma partícula chamada PM2.5, e medem aproximadamente 30 vezes menor que um fio de cabelo humano. Elas são emitidas pela maioria das fábricas ao redor do mundo e também de carros e caminhões de carga. É justamente o tamanho que torna a partícula mais perigosa. Por ser tão diminuta, a partícula pode penetrar facilmente nos pulmões e, então, na corrente sanguínea, carreando metais pesados. Assim, pode passar para diversos órgãos e causar inflamação, condição que favorece a resistência à insulina. Com o passar do tempo, a PM2.5 pode afetar o pâncreas, que não consegue bombear insulina suficiente para compensar. É então que o diabetes aparece.
Esse mecanismo agora é apoiado por evidências tanto em modelos experimentais quanto em humanos que inalaram estas nanopartículas, que exibem afinidade para se acumular em locais de inflamação vascular. Além disso, a exposição a poluentes do ar ambiente pode levar a distúrbios clinicamente significativos no sistema nervoso autônomo, estresse oxidativo, inflamação, estresse de retículo endoplasmático, apoptose e amplos distúrbios metabólicos na homeostase da glicose e insulina, incluindo intolerância à glicose, diminuição da sensibilidade à insulina e secreção prejudicada e aumento das concentrações de lipídios no sangue, proporcionando plausibilidade mecanicista biológica para a associação da exposição ao PM 2,5 e o risco de diabetes.
As consequências das partículas PM2.5 podem ser muito piores em países e cidades com altos níveis de poluição atmosférica, e onde o controle da emissão de gases e poluentes não existe ou não é respeitado. Os autores observaram que a carga de doença variou substancialmente entre as regiões geográficas e foi mais fortemente direcionada para países de baixa renda e de renda baixa a média.
A função de resposta à exposição integrada não linear implica que, nos países com maior carga de poluição, uma redução modesta em PM 2,5 resultará em pequena redução no risco; no entanto, dadas as grandes populações que vivem em regiões altamente poluídas, mesmo pequenas reduções incrementais em PM 2,5 resultarão em redução substancial na carga de diabetes, concluíram os autores do estudo.
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Referências:
Bowe B, Xie Y, Li T, Yan Y, Xian H, Al-Aly Z. The 2016 global and national burden of diabetes mellitus attributable to PM2·5 air pollution. Lancet Planet Health. 2018 Jul;2(7):e301-e312. doi: 10.1016/S2542-5196(18)30140-2. PMID: 30074893.