Diz o ditado popular que os médicos são os piores pacientes. Agora, um estudo realizado ao longo de uma
década, com dados populacionais da Suécia, pode comprovar parcialmente essa
teoria. Publicado no American Economic
Review: Insights, o artigo diz que os médicos, assim como seus familiares
próximos (como parceiros, pais e filhos), são menos propensos a aderir a
orientações médicas relativas ao uso de medicamentos quando colocados na
posição de pacientes.
Segundo a pesquisa, a população não médica adere às
diretrizes gerais de medicações receitadas por 54,4% do tempo. Já os médicos e
seus parentes ficam 3,8 pontos percentuais atrás disso. Para se chegar à
conclusão, foram examinados, entre os anos de 2005 e 2016, dados descritivos de
5.887.471 pessoas (149.399 médicos ou familiares) às quais se aplicava pelo
menos uma de 63 diretrizes de medicamentos prescritos. Destas, seis diziam
respeito a antibióticos; vinte envolviam uso de medicamentos por idosos; vinte
eram sobre medicamentos associados a diagnósticos específicos; e dezessete
sobre uso de medicamentos prescritos durante a gestação.
Do total de 63 orientações utilizadas, foi constatado que médicos
e seus familiares seguiram os padrões recomendados com menos frequência em 41
casos, sendo a diferença estatisticamente significativa vinte vezes. Eles
seguiram as orientações com mais frequência nos outros 22 casos restantes,
havendo diferença estatisticamente significativa apenas três vezes.
Com os dados em mãos, os pesquisadores tentaram descobrir o
motivo pelo qual os médicos são menos propensos a seguir as orientações. A
suposição, de acordo com os estudiosos, não está ligada a questões econômicas
ou de status social, mas ao fato de que os médicos possuem informações
superiores e mais especializadas sobre diretrizes para medicamentos prescritos,
utilizando as mesmas para si mesmos.
Assim, os estudiosos sugerem que os profissionais de saúde têm
uma compreensão mais sutil de qual é o curso de ação certo para eles e como
isso pode ser diferente do que as diretrizes indicam. Neste caso, pode existir
um conflito entre o que os médicos acreditam ser bom para eles como pacientes e
o que é apontado ou direcionado como bom para a sociedade.
Referência:
Amy Finkelstein et al, A Taste of Their Own Medicine: Guideline Adherence and Access to Expertise, American Economic Review: Insights (2022). DOI: 10.1257/aeri.20210591
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