Apartheid é uma palavra em Afrikaans que significa "separação" ou "estado de estar separado", que descreve o sistema de segregação racial institucionalizado que existiu na África do Sul e no Sudoeste da África. O “estado de separação dos programas de vacinas'' para países de renda baixa e média e a falta de soluções reais significativas se assemelham fortemente à situação na África do Sul durante o século XX. Apesar da maioria dos estudos das vacinas contra a COVID-19 terem sido realizados nesses países, estes receberam apenas uma mísera parcela das vacinas que ajudaram a desenvolver, participando de testes clínicos e fornecendo cobaias humanas.
Existem muitas razões pelas quais a comunidade internacional como um todo deve defender a igualdade da vacina contra a COVID-19: reduzir a recessão econômica global, surtos não controlados com maior risco de surgimento de variantes do vírus mais agressivas e viagens inseguras persistentes em uma era de causas de morte agora evitáveis por vacina. Essa desigualdade é uma ameaça evitável à saúde global. Agências de financiamento, formuladores de políticas, empresas farmacêuticas e ONGs, entre outros, têm o dever moral de acabar com o apartheid da vacina e de tornar a igualdade da vacina uma realidade.
Nessa perspectiva, um recente artigo discute como as desigualdades no acesso à vacinação afetam o controle adequado da pandemia, destacando consequências específicas para a saúde infantil. Inclusive o próprio banco mundial já lançou um plano para o fim da pandemia e retorno do crescimento das economias mundiais.
Em 18 de agosto de 2021, 31,7% da população mundial havia recebido pelo menos uma dose da vacina contra a COVID-19 e 23,7% estavam totalmente vacinadas. Cerca de 4,76 bilhões de doses foram administradas globalmente e 37,24 milhões agora são administradas diariamente. No entanto, apenas 1,3% das pessoas em países de baixa renda receberam pelo menos uma dose. Havia uma coalizão global eficaz para desenvolver as vacinas, mas não para distribuí-las. Os países menos poderosos estiveram ativamente envolvidos na produção e nos testes de vacinas, mas não receberam as doses que mereciam e/ou necessitavam.
Leia mais:Meta da OMS: 40% da população mundial deve estar vacinada até o fim de 2021
“Acredito que o mundo enfrenta uma falha moral catastrófica no acesso igualitário às ferramentas para combater a pandemia. - Secretário-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.”
Se esse apartheid vacinal persistir, as consequências morais, sociais e econômicas serão enormes. Até que o mundo inteiro esteja coberto pela vacina nós não poderemos descansar em relação a esta pandemia, pois podem surgir a qualquer momento novas variantes mortais nestes países que não estão protegidos, além disso a economia global continuará prejudicada devido seu caráter transnacional.
As agências de financiamento, formuladores de políticas públicas, empresas farmacêuticas e ONGs, entre outros, têm o dever moral de acabar com o apartheid da vacina e de tornar a igualdade vacinal uma realidade. Não esqueçamos o preço moral de continuar perdendo vidas para uma doença que já é evitável através da vacinação.
Artigos relacionados
- Ministério da Saúde anuncia terceira dose da vacina contra a COVID-19 a partir de 15 de setembro
- Meta da OMS: 40% da população mundial deve estar vacinada até o fim de 2021
- A corrida da vacina COVID-19
- OMS recomenda vacina inovadora contra malária para crianças em risco
- Pfizer envia dados para o FDA solicitando liberação emergencial de vacina em crianças
Quer escrever? Publique seu artigo na Academia Médica. Clique no botão "NOVO POST" no alto da página!
Referências
Lanziotti, V.S., Bulut, Y., Buonsenso, D. and Gonzalez-Dambrauskas, S. (2021), Vaccine apartheid: This is not the way to end the pandemic. J Paediatr Child Health. https://doi.org/10.1111/jpc.15805
Conteúdo traduzido e adaptado por Diego Arthur Castro Cabral