Com o objetivo de monitorar a experiência de cuidado do paciente oncológico, um estudo controlado randomizado de fase 3 avaliou a intervenção combinada de acompanhamento do doente em terapia anticancerígena oral por enfermeiro e por aplicativo móvel. Recentemete publicada na revista Nature, a pesquisa visa também a melhoria da saúde da população-alvo e a redução do custo per capita dos cuidados.
O estudo teve início em 2016 e seguimento de 3 anos, envolvendo 559 pacientes com idade mediana de 62 anos. Após avaliação inicial, os enfermeiros vincularam os dados do prontuário eletrônico do paciente ao aplicativo do estudo. Cada participante recebeu uma caixa inicial, incluindo os dados de login para acessar o portal, instruções de uso e cartas de apresentação para os profissionais de saúde.
Por meio do aplicativo, disponibilizado na versão web ou mobile, os pacientes tinham podiam registrar e rastrear dados, entrando em contato com enfermeiros por meio de um sistema seguro de mensagens, visualizando informações sobre terapia e efeitos colaterais ou armazenando documentos.
Por último, o sistema gerava alertas automáticos que eram enviados aos pacientes e aos enfermeiros, com uma mensagem de aviso indicando os horários em que os enfermeiros podiam ser contatados. Os alertas e solicitações dos pacientes foram gerados de diferentes formas: automaticamente, via app; pelos enfermeiros durante o acompanhamento; ou por mensagens ou ligações para o paciente ou profissionais de saúde. Os enfermeiros, a partir do contato, avaliavam o grau de alerta com base em ferramentas de apoio à decisão clínica e determinavam a ação a ser tomada de acordo com algoritmos de navegação.
Os pacientes do controle tiveram visitas de acompanhamento no hospital (a critério do oncologista responsável, geralmente após um mês, depois a cada dois/três meses), mas sem interação com os enfermeiros. Por sua vez, o grupo experimental teve o acompanhamento remoto, além de visitas hospitalares semelhantes. Ao todo, foram contabilizadas 3.445 (76,1%) interações remotas entre pacientes e enfermeiros, como resultado de acompanhamento agendado ou alertas recebidos dos pacientes ou seus familiares. Dessas 3.445 interações, 2.062 (59,9%) resultaram em uma intervenção clínica, das quais 1.595 (77,4%) foram realizadas apenas por enfermeiros, ou seja, sem necessidade de encaminhamento ao oncologista responsável.
Em relação ao uso da plataforma, 52% dos pacientes baixaram o aplicativo para smartphone, enquanto os 48% restantes usaram o portal da web, e-mails e/ou telefonemas para interagir com os enfermeiros. A maior proporção de pacientes que baixaram o aplicativo tinha idade inferior a 30 anos (79%) e a menor parte (15%) tinham idade superior a 80 anos.
A conclusão geral do acompanhamento remoto agendado (excluindo visitas hospitalares) foi de 87,4%, variando de 77% em pacientes com idade inferior a 45 anos a 90% para pacientes com idade superior a 75 anos.
O estudo demonstra que uma intervenção digital liderada por enfermeiros é capaz de mostrar um efeito positivo sobre os objetivos das intervenções de saúde por meio de uma melhoria da experiência de cuidado do paciente (através do escore PACIC) e da saúde da população-alvo (com uma diminuição das toxicidades de grau ≥3 de 36,9% para 27,6% dos pacientes); além de controle de custos devido à diminuição dos dias de internação.
Parece provável que tal sistema de monitoramento remoto de pacientes represente não apenas um avanço tecnológico usando ferramentas digitais, mas também uma inovação organizacional que inclui o recrutamento de enfermeiros com habilidades clínicas e gerenciais e a definição de algoritmos aprovados institucionalmente para a tomada de decisão clínica para avaliação e orientação do paciente
Além disso, o estudo confirma que as intervenções digitais não são independentes. Os pacientes com câncer muitas vezes se sentem isolados e sobrecarregados, ao mesmo tempo em que experimentam sintomas desconhecidos e desagradáveis relacionados à sua doença e tratamento. O apoio de um enfermeiro especialista em oncologia e navegador habilidoso não é apenas vital para a usabilidade e segurança da tecnologia, mas também fundamental para melhorar a experiência do paciente usuário da tecnologia.
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Referência
Mir, O., Ferrua, M., Fourcade, A. et al. Digital remote monitoring plus usual care versus usual care in patients treated with oral anticancer agents: the randomized phase 3 CAPRI trial. Nat Med 28, 1224–1231 (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-01788-1