Chegamos quase
ao fim de mais um mês de outubro e com ele tivemos uma nova campanha para o
rastreamento e detecção precoce do câncer de mama. Este é o câncer mais comum
entre as mulheres tanto em países desenvolvidos quanto em menos desenvolvidos,
com uma estimativa de 1,67 milhão de novos casos diagnosticados em todo o mundo
em 2012 (representando 25% de todos os cânceres). O câncer de mama é uma das
principais causas de mortalidade em países desenvolvidos (198.000 mortes, 15,4%
do total; ocupando o segundo lugar depois do câncer de pulmão) e menos
desenvolvidos (324.000 mortes, 14,3% do total; ocupando o primeiro lugar).
Apesar de
décadas de pesquisas laboratoriais, epidemiológicas e clínicas, a incidência de
câncer de mama continua a aumentar. O câncer de mama continua sendo a principal
causa de carga de doença relacionada ao câncer para as mulheres, afetando uma
em cada 20 em todo o mundo e até uma em cada oito em países de alta renda.
Embora o
rastreamento e detecção precoce por meio do autoexame e mamografia e/ou
ultrassom das mamas seja de extrema importância para um melhor prognóstico das
pacientes portadoras de câncer, pouco se fala (neste mês e em todos os outros)
sobre um tópico primordial: existe algo que as mulheres possam fazer para
diminuir a chance de desenvolvimento de câncer de mama? Estima-se que 30 a 40%
dos cânceres podem ser prevenidos por meio de mudanças no estilo de vida
modificável e fatores de risco ambientais conhecidos por estarem associados à
incidência de câncer. Apesar desse conhecimento, ainda há uma consciência
limitada de que essas associações existem.
Sabe-se que
existem fatores de risco genéticos e ambientais que influenciam no desenvolvimento
do câncer de mama. Os primeiros incluem a presença de mutações de oncogenes
como o BRCA1, BRCA2 e CHECK2 e também de polimorfismos de nucleotídeos (SNPs).
Os fatores de risco não genéticos incluem idade avançada, história pessoal de
patologias da mama, mamas densas, exposição a radiação na região do tronco
(como para o tratamento de doença de Hodgkin), índice de massa corporal (IMC)
maior, comportamento sedentário e falta de exercícios físicos, ingesta excessiva
de álcool e fatores reprodutivos como menarca precoce, baixa paridade, período
curto de amamentação e menopausa tardia.
O World Cancer
Research Fund, o American Institute for Cancer Research e o American Cancer Society produziram
diretrizes para a prevenção de uma série de cânceres que se concentram no
controle de peso, exercícios regulares, redução do consumo de álcool e uma
dieta baseada em vegetais. Vários grandes estudos de coorte relataram taxas
mais baixas de câncer de mama entre as mulheres que aderem às recomendações destas
diretrizes. Cinco estudos de mulheres na pós-menopausa relataram reduções de
risco de 16% a 60%, principalmente relacionadas à redução da gordura corporal e
ingestão de álcool, em vez de diferenças específicas nos padrões alimentares.
Um fato
importante relacionado a isso, a meu ver, é que pouco ou muito pouco se fala
sobre hábitos que nós mulheres podemos adquirir ou mudar de forma a reduzir a incidência
de câncer de mama. Por exemplo, a amamentação deve ser incentivada sempre
devido aos inúmeros benefícios que os bebês têm, mas é extremamente infrequente
vermos a divulgação de que a amamentação é um dos principais fatores protetores
do câncer de mama.
Ademais, busco,
neste texto, escrever um pouco especificamente sobre a importância do exercício
e atividade física no combate a esta assoladora doença. Ao ser fisicamente
ativa, você, querida leitora, pode reduzir o risco de câncer de mama em cerca
de 20%. A atividade física também reduz o risco de recorrência do câncer de
mama e mortalidade após um diagnóstico da doença, além de melhorar o prognóstico e diminuir efeitos colaterais do tratamento para a doença.
Os mecanismos
pelos quais tal impacto acontece ainda não estão bem elucidados, mas incluem reduções
nas concentrações endógenas de hormônios sexuais, resistência à insulina e
inflamação crônica de baixo grau. Além disso, outras vias estão surgindo como
potencialmente importantes, incluindo aquelas que envolvem estresse oxidativo e
comprimento dos telômeros, hipometilação global do DNA, função imune, e aumento
da expressão gênica de BRCA e outros genes de reparo do genoma. A atividade
física, incluindo exercícios estruturados, reduz os níveis de hormônios, como
estrogênio, andrógeno, insulina, leptina (um hormônio associado à fome) e
certos fatores de crescimento. Níveis aumentados de todos eles têm sido
associados ao câncer de mama. Ser ativo também geralmente melhora a capacidade
do sistema imunológico de protegê-la do câncer.
Igualmente
importante, manter uma rotina de exercícios físicos também auxilia na
manutenção do peso corporal em uma faixa saudável, o que desempenha um papel
significativo na redução do risco de câncer de mama se você for uma mulher que
atingiu a menopausa ou também se for homem. Um estudo descobriu que apenas uma
hora de caminhada por semana ajuda a melhorar as taxas de sobrevivência se você
tiver câncer de mama, com benefícios máximos encontrados em mulheres que
caminharam de 3 a 5 horas por semana.
Por isso,
finalizo este breve artigo fazendo um apelo: que possamos divulgar mais os benefícios
da prática de exercícios físicos para todas as pessoas, em especial as
mulheres. Não deixem de realizar os exames de rotina, tenham um médico
ginecologista de confiança, busquem uma rotina alimentar rica em vegetais,
frutas e hortaliças. Se conheçam e se amem. Deixo também o meu carinho a todas
as mulheres que lutam ou já lutaram contra esta misteriosa, porém vil, doença.
Desejo que possamos, todos juntos, literalmente caminhar em direção à prevenção
e tratamento do câncer de mama.
Artigos
relacionados:
Controle de peso e atividade física para prevenção e controle do câncer de mama
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- Outubro Rosa! Brasil registra queda no número de mamografias
Referências:
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