Enquanto participava de debate a respeito da profissionalidade na área médica e de suas consequências tanto para a vida pessoal do promotor da saúde, quanto para suas futuras projeções, atentei-me ao posicionamento defendido por um dos colegas que fazia parte da mesa redonda, o qual defendia que “seus pais, seus amigos e seus parentes possuem maior importância do que você mesmo nas suas escolhas, porque você as toma pensando neles”. Fui prontamente averso a essa opinião, à medida em que questiono onde entra a importância de seus valores pessoais? E sua autoavaliação profissional?
Claro que todos eles possuem sua necessária influência nas nossas escolhas, mas não são eles quem irão gerar o sucesso das suas decisões, e sim nós, à medida em que, por meio de uma autoavaliação profissional, decidimos escolher a melhor especialização fundamentados nas nossas necessidades e gostos, distintos das que estão a nossa volta, e é isso que gera o sucesso no ramo médico.
Ao longo de toda sua história, a medicina sempre se destacou pelo seu intuito primordial de formar trabalhadores capacitados e efetivos quanto à questão profissional, mas isso deve ser acompanhado também por uma preocupação moral. Em tempos contemporâneos, uma maior consciência acerca da existência e da aplicação dos direitos humanos básicos, somada à “obrigação” de se manter um bom comportamento, atraem os holofotes para tal tema, sobretudo em terras tupiniquins.
É evidente que os profissionais que exercem a medicina devem possuir, acima de tudo, uma formação moral necessária a fim de se alcançar o sucesso na carreira e manter um bom relacionamento com o paciente, que apesar de assumir um papel de dependente das ações tomadas pelo médico na relação profissional, possui a mesma condição de agente na integridade emocional existente durante a relação moral, muitas vezes subjugada por uma vasta fatia de profissionais.
Somado a isso, encontra-se a questão da influência que o passado exerce nas futuras ações tomadas pelos profissionais, onde um médico com traumas ou tristezas possui maior dificuldade de se relacionar com pacientes e tomar decisões individuais que são definidoras na carreira.
Todavia, mais vale um sorriso sincero do que um “obrigado” amargo, mas para que isso aconteça, é necessário que haja paciência, respeito e empatia mútuos. Empatia esta que se faz presente em diferentes situações, a exemplo da eutanásia, que gera um sentimento de perda e melancolia no profissional.
Contudo, não serão todos os médicos que terão tal sensação, afinal a ideologia de cada um é como se fosse uma lente, e é a partir dessa lente que todos enxergam o mundo, tornando distintos as visões acerca de um mesmo fato, todavia mesmo não sendo uma obrigação profissional, acaba por se tornar uma obrigação moral e ética.
É de fundamental importância ressaltar também o papel que devemos ter no campo profissional médico, à medida em que criar uma “rede” de relações e comportamentos com novas pessoas não é fácil, ainda mais quando essas pessoas encontram-se na posição de dependentes de ações que serão tomadas por nós.
Aí é que entra o papel que a empatia possui dentro da “teia” na relação médico-paciente, onde aprender ou despertar o sentimento de pena ou alegria, ou até tristeza, em diferentes momentos com relação ao estado do paciente gera um maior vínculo, que também possui seu papel no auto-processo de cura sem fins terapêuticos.
É claro que para isso ocorrer, é necessário que esse sucesso seja atingido por meio de esforço, no qual, após descoberta a sua vocação médica dentro do campo profissional, será preciso testá-la de forma que agrade tanto o profissional pessoalmente, quanto aqueles que lhe serão atendidos. Assim se gera bem-estar, alegria em realizar o trabalho, e rendimento superior ou igual ao esperado inicialmente.
Caso isso ocorra com êxito, então os futuros clínicos, enfermeiros, farmacêuticos, cirurgiões, dentre vários outros, poderão de fato preencher uma lacuna que esteve escrita para eles todo o tempo, com impactos sociais e econômicos benéficos para os envolvidos, e o mais importante, sucesso pessoal e moral próprios, conforme suas vontades, desejos e ambições forem realizadas, e não as vontades dos que estão à sua volta.
Em virtude dos argumentos mencionados, ficam claras as inúmeras questões acerca do relacionamento médico-paciente e do sucesso do profissional promotor da saúde, no geral.
É imprescindível que instituições educacionais, a exemplo da própria escola, somada às faculdades e aos centros de ensino de Medicina, e ao próprio ambiente familiar, devam respectivamente: organizar e debater acerca dos valores morais, visando conscientizar os futuros cidadãos, tornar vigente o ensino e a harmonia entre o sucesso profissional e o sucesso moral, num intuito de contribuir para que se mantenha um relacionamento futuro benéfico para médico e paciente, e garantir uma educação primária básica de qualidade.
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