Receber o diagnóstico de um câncer de mama não é fácil. Com ele, chega também uma enorme ansiedade de não saber o que está por vir. Quimioterapia, cirurgia e radioterapia parecem realmente um grande desafio, às vezes coisas impossíveis. Mas a verdade é que, à medida que começa o tratamento, muitas destas dúvidas e medos desaparecem e o que parecia impossível pode se tornar mais claro e até mais fácil.
A grande mudança é que, a partir do diagnóstico, a paciente terá sempre que passar por consultas médicas e realizar exames. Caso a cura do tumor não seja mais possível, é preciso mudar o foco do tratamento: viver o maior tempo possível, com a maior qualidade de vida. Isso significa utilizar tratamentos menos tóxicos e que permitam que a paciente fique mais tempo fora do hospital. Também significa que é possível interromper o tratamento por algum tempo, se a paciente estiver se sentindo bem, e só reiniciá-lo quando a doença estiver saindo de controle.
Mesmo com tudo isso, nesta caminhada cheia de desafios, é importante sempre pensar em esperança, fazendo dela um farol. A respeito de campanhas de conscientização a respeito do Câncer de Mama, no mês de outubro ganham mais visibilidade e se tornam foco de discussões e mobilizações a respeito. Momento importante para lembrar que a doença é a principal causa de câncer na maioria dos países, representando 11,7% de todos os casos de câncer e com uma estimativa de 2,3 milhões de novos casos por ano.
Há muitas evidências de que as iniciativas de diagnóstico precoce salvam muito mais vidas e são muito mais efetivas do que o tratamento em fases mais avançadas. No Brasil, ainda temos muito a melhorar neste cenário. Taxas de mortalidade brasileiras estão aumentando com variações marcantes entre as regiões geográficas, e vários fatores podem explicar as disparidades, incluindo atrasos no diagnóstico devido à baixa escolaridade, baixa adesão aos programas de rastreamento e lacunas na sua implementação.
Diante disso, as campanhas do “Outubro Rosa” foram se difundindo cada vez mais no nosso país, com o objetivo de compartilhar gratuitamente informações sobre o câncer de mama, e promovendo conscientização da doença em toda a sociedade. Assim, trazendo recursos públicos e privados para maior acesso a serviços de diagnóstico e realização de exames de mamografia, contribuindo para a redução da mortalidade.
Um estudo da Public Health in Practice 4 (2022) analisou a efetividade dessas campanhas no Brasil e observou que, no nosso país, o Outubro Rosa impacta sim na demanda por exames de mama a partir de outubro até dezembro, com aumento de até 39%. Conseguimos perceber o importante papel das campanhas do Outubro Rosa no rastreamento mamográfico no Brasil.
Houve aumento de exames realizados ao longo dos anos deste estudo e, um aumento em outubro, novembro e dezembro desses anos. Infelizmente, observou-se também que ainda há muito o que melhorar, uma vez que nos outros nove meses do ano o número médio de exames diminui em até 20%. Isso mostra a necessidade de que essas campanhas continuem sendo amplamente difundidas no restante dos meses.
Diagnosticar o quanto antes é um dos pontos mais importantes da batalha. Se neutralizar todos os fatores de risco é impossível, a solução é diagnosticar o câncer o quanto antes, enquanto é possível falar em cura. Isso melhorou muito nas últimas décadas, com a sofisticação dos exames de imagem e a implementação de políticas de rastreamento.
Podemos dizer que, considerando todos os tipos de câncer, mais da metade dos pacientes tem oportunidade de ficar curados. É muito quando se trata de doenças crônicas. Novas técnicas de radioterapia e substâncias que atacam as células doentes sem destruir as sadias também transformaram o cenário, inclusive para doenças que de fato eram uma sentença de morte, como certos tipos de câncer de pulmão ou melanoma de pele avançados.
Com diagnóstico precoce, vamos curar cerca de 90% dos casos de câncer, com baixo custo e sem mutilação. Até pouco tempo, quase todos os tumores de mama eram tratados com mastectomia radical. Hoje, com associação de novas técnicas cirúrgicas, drogas e radioterapia, é possível retirar só um quarto da mama em muitos casos de câncer.
Não só a sobrevida aumenta, como também a qualidade dela. E, embora a taxa de mortes por todos os tipos de câncer no Brasil (mais de 200 mil ao ano) ainda não dar nenhum sinal de queda (principalmente por falhas no rastreamento da doença), os números mostram que há muita gente vivendo mais, apesar do câncer.
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