No último dia 06 de novembro de 2021, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e o Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade (DEFAT) publicaram um Posicionamento Oficial sobre o uso (e abuso) de implantes de gestrinona no Brasil. Confira abaixo os principais pontos do documento.
A gestrinona é um hormônio esteroide progestágeno sintético derivado da 19- nortestosterona com propriedades androgênicas, antiestrogênicas e antiprogestogênicas, e também inibe a liberação de gonadotrofinas pela hipófise. O hormônio começou a ser estudado para tratamento da endometriose por via oral no final dos anos 70.
Entretanto, não existem estudos de segurança e eficácia da gestrinona para tratamento de endometriose por uso parenteral, particularmente, por meio de implantes. A gestrinona também é um hormônio com ações anabolizantes e está na lista de substâncias proibidas no esporte da World Anti-Doping Agency (WADA). Por seus possíveis efeitos androgênicos (como diminuição de massa gorda, aumento de massa muscular, aumento de libido), a gestrinona têm sido usada erroneamente por mulheres na busca de melhora da performance física e estética. Uma vez que não existe produção de gestrinona oral pela indústria farmacêutica no Brasil, o uso abusivo do hormônio tem sido feito por meio de implantes hormonais (isolada ou associada a outros hormônios).
Medicamentos contendo substâncias anabolizantes são sujeitos ao controle especial no Brasil. Atualmente existem 28 fármacos que compõem a Lista C5 da Portaria SVS/MS nº 344/1998. A dispensação em farmácias requer Receita de Controle Especial (RCE) em duas vias. E diferente de outras prescrições, essa receita médica deve conter o CPF do prescritor e o CID da doença do paciente. Entretanto, apesar do efeito anabolizante da gestrinona ser reconhecido internacionalmente (lista proibida da WADA), ela não está na atual Lista C5 de anabolizantes da ANVISA, ressalta a entidade.
Vale a pena ressaltar que a indicação de uso de derivados androgênicos em mulheres (incluindo a testosterona) é restrita a poucas situações. No Brasil, a utilização de implantes hormonais com esteroides sexuais e seus derivados aumenta de forma avassaladora. Os relatos de efeitos adversos associados ao uso de implantes de gestrinona e outros hormônios androgênicos em mulheres aumentam a cada dia: acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz e aumento clitoriano.
Outro ponto importante que consta no documento da SBEM é a falta de rótulo e de bula completa destes implantes, deixando a paciente sem as devidas informações básicas sobre indicações aprovadas pela agência regulatória, posologia, interações medicamentosas, estudos de segurança e eficácia e efeitos adversos. O Bulário Eletrônico da ANVISA tem como objetivo facilitar o acesso rápido e gratuito pela população e profissional de saúde às bases de dados das bulas de medicamentos. No presente momento, o hormônio em questão não se encontra no bulário eletrônico da agência.
O implante de gestrinona não é uma opção terapêutica reconhecida e recomendada pela Endocrine Society (Sociedade de Endocrinologia Americana), pela North American Menopause Society (Sociedade Americana de Menopausa – NAMS) e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). A decisão das entidades se baseia no fato de esta não estar de acordo com a padronização de medicamentos hormonais, não ter aprovação de uso pelas diferentes agências regulatórias em diversos países e, principalmente, por não existirem evidências científicas de qualidade referentes à eficácia e segurança dos implantes de gestrinona.
Referências:
Posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) sobre o uso (e abuso) de implantes de gestrinona no Brasil. Disponível em https://www.endocrino.org.br/wp-content/uploads/2021/11/Posicionamento-da-SBEM-sobre-Implante-de-Gestrinona_2021.pdf
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