Não foi somente a pandemia do novo Corona vírus que desencadeou a piora na saúde mental e emocional dos médicos no mundo. Muito antes disso, uma boa parte dos profissionais já apresentava sintomas de Burnout, transtornos depressivos, ansiedade e estresse.
Mas como será que anda a saúde mental dos médicos em países desenvolvidos como a Alemanha, por exemplo?
Um pouco antes da pandemia, a Medscape- portal de informações para médicos e outros profissionais de saúde, fez uma pesquisa com 650 médicos: “Burnout and Depression Among Doctors in Germany.” O estudo constatou que 1 em cada 4 médicos tem depressão, e 1 em cada 5 tem uma combinação de Burnout (esgotamento) e depressão.
Problemas mentais como: o Burnout, o esgotamento mental, ou a depressão são generalizados pelos médicos alemães. Os números mostram que 24% dos médicos dizem que sofrem de depressão, 9% descrevem seus sintomas como uma combinação de Burnout e depressão, 12%, falam apenas de esgotamento mental (Burnout ). Os outros 56%, dizem não ter ou não perceber nenhum desses sintomas.
Para os médicos que disseram ter algum sintoma, o dia a dia no trabalho é a principal causa. Os que trabalham em hospitais citam essa razão com um pouco mais de frequência do que os médicos no consultório particular.
Os principais fatores que adoecem os médicos são:
- as tarefas administrativas (52%) são um grande peso/ fardo.
- Muitas horas trabalhadas (50%),
- falta de reconhecimento no ambiente profissional (36%),
- orientados a lucrar (32%),
- remuneração insuficiente (26%),
- regulamentações governamentais (18%)
- ou crescente informatização/burocracias (18%) são outros fatores importantes.
Os sintomas de Burnout duraram mais de um ano por 60% dos entrevistados. A maioria os descreve como de "intensidade média". Embora os médicos não tenham medo de falar sobre depressão, eles classificam seu sofrimento como não tão dramático.
A pesquisa também deixa claro que na maioria das vezes os médicos descarregam sua insatisfação em colegas no trabalho.
Quando perguntados sobre o que sentem além do Burnout e depressão, eles citaram frustração e muito cinismo no ambiente de trabalho, assim como dúvidas sobre suas próprias competências, em muitos momentos.
Os médicos alemães estão ainda melhor em comparação a outros países.
O relatório internacional da Medscape, “Global Physicians Burnout and Lifestyle Comparisons”, documentou que os problemas graves passam as fronteiras, e que outros países também atingem seus limites de stress e depressão na área médica
Além da Alemanha, a. mesma pesquisa foi realizada em outros 5 países França, Portugal, Espanha, USA e Grã-Bretanha.
Em Portugal, a cada ano uma média de 475 médicos deixam o país, sendo que em 2020 esse número triplicou. Com a pandemia ocorreu a deterioração do sistema nacional de saúde (SNS), e os profissionais disseram não ter mais condições adequadas de trabalho. Muitos começaram a sentir esgotamento mental, depressão e estresse.
Os médicos em Portugal ( 47%) e Espanha (43%) são os que têm a maior taxa de Burnout: as taxas mais altas na Europa!
Na Grã-Bretanha a taxa ficou em 32%, nos USA 40% e na França 42% ficando pouco atrás da Espanha.
No mesmo dia em que eu estava finalizando a matéria, fiquei sabendo por uma amiga médica na Áustria que um colega dela no hospital suicidou-se e, segundo ela, o problema também é grande no país. Isso me faz pensar que não é apenas nos EUA que o número de suicídios no meio médico acontece com frequência.
Os cientistas realizaram uma meta-análise de estudos publicados nos últimos dez anos ( 2008- 2018) para determinar se eles podiam entender porque as taxas eram tão altas, bem como para medir a eficácia das intervenções postas em prática para reduzir os suicídios hospitalares. Descobriram que entre 28 e 40 médicos por 100.000 por ano morrem por suicídio nos EUA, o que em números brutos está entre 300 e 400 suicídios por ano.
Participaram um total de 20 mil médicos e segundo a pesquisa, em média, mais de 1 em cada 3 médicos ( 37%) sofrem de Burnout e depressão.
Em comparação com outros países, a Alemanha ainda se sai melhor relação somente ao Burnout (12%) e combinação Burnout e depressão 21%.
Se compararmos os números da Alemanha com o de outros países, veremos que ela tem somente números menores de casos de Burnout (12%) e combinação Burnout e depressão 21%, mas estão no topo da lista quando o assunto é depressão. Além disso, quase a cada 1 segundo, 1 médico na Alemanha relata sentimentos de exaustão física, emocional e mental.
Na França uma média de 45 médicos se suicidam anualmente, um fenômeno que começou a preocupar toda a classe médica.
Esses suicídios são muitas vezes a expressão do Burnout, cuja prevalência na população de saúde está sendo cada vez mais estudada. Os médicos estão sujeitos a estresse permanente, responsabilidade médico-legal significativa e longas horas de trabalho, o que leva ao esgotamento mental (Burnout).
Eles também sofrem de solidão e falta de apoio em seu trabalho, e são confrontados com dificuldades organizacionais, tais como sobrecarga administrativa, entre outras.
A profissão exige muito do profissional que cuida, mas que não é cuidado pelo sistema.
Vale lembrar que esta pesquisa foi feita antes da pandemia Covid e infelizmente durante a pandemia/crise os problemas na classe médica só se agravaram aumentando ainda mais a porcentagem dos médicos com problemas de saúde mental.
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