Pessoas que comem ou bebem mais alimentos com flavonoides
antioxidantes, encontrados em várias frutas e vegetais e em bebidas como chás e
vinho, podem ter uma taxa mais lenta de declínio da memória. Isto segundo estudo publicado na edição on-line de 22 de novembro de 2022 da
revista Neurology, da Academia
Americana de Neurologia.
Os autores buscaram estudar possíveis associações de
ingestão alimentar de flavonóis totais e seus constituintes (compostos como
kaempferol, quercetina, miricetina, isorhamnetina) sobre mudanças no desempenho
em cognição global, memória episódica, memória semântica, habilidade
visuoespacial, velocidade perceptiva e memória de trabalho. Para tanto, a
pesquisa foi conduzida com 961 participantes (cujas idades variaram entre 60 e
100 anos, com idade média de 81 anos), sem demência, do Rush Memory and Aging Project, uma coorte prospectiva de moradores
de Chicago que foram acompanhados por uma média de 6,9 anos.
A dieta foi avaliada por meio de um questionário de
frequência alimentar semiquantitativo validado. Eles também completaram testes
cognitivos e de memória anuais, incluindo recordar listas de palavras, lembrar
números e colocá-los na ordem correta. Além disso, os voluntários foram
questionados sobre outros fatores, como nível de escolaridade, quanto tempo
gastavam fazendo atividades físicas e quanto tempo gastavam fazendo atividades
mentalmente envolventes, como ler e jogar.
Os participantes foram divididos em cinco grupos iguais com
base na quantidade de flavonóis que tinham em sua dieta. Enquanto a quantidade
média de ingestão de flavonol em adultos nos EUA é de cerca de 16 a 20
miligramas (mg) por dia, a população do estudo teve uma ingestão dietética
média de flavonóis totais de aproximadamente 10 mg por dia. O grupo mais baixo
ingeriu cerca de 5 mg por dia e o grupo mais alto consumiu uma média de 15 mg
por dia; o que equivale a cerca de uma xícara de folhas verdes escuras.
Os cientistas também dividiram os flavonoides em quatro constituintes:
kaempferol, quercetina, miricetina e isorhamnetin. Os alimentos que mais
contribuíram para cada categoria foram: couve, feijão, chá, espinafre e
brócolis para kaempferol; tomate, couve, maçã e chá para quercetina; chá,
vinho, couve, laranja e tomate para miricetina; e peras, azeite, vinho e molho
de tomate para isorhamnetin.
Após o ajuste para outros fatores que poderiam afetar a taxa
de declínio da memória, como idade, sexo e tabagismo, os pesquisadores
descobriram que a pontuação cognitiva das pessoas que ingeriam mais flavonóis
diminuía a uma taxa de 0,4 unidades por década mais lentamente do que as
pessoas que possuíam um menor consumo.
Mais especificamente, as pessoas que tiveram a maior
ingestão de kaempferol tiveram uma taxa de declínio cognitivo 0,4 unidades por
década mais lenta em comparação com as do grupo mais baixo. Aqueles com a maior
ingestão de quercetina tiveram uma taxa de declínio cognitivo 0,2 unidades por
década mais lenta em comparação com aqueles do grupo mais baixo. E as pessoas
com a maior ingestão de miricetina tiveram uma taxa de declínio cognitivo 0,3
unidades por década mais lenta em comparação com as do grupo mais baixo. Os
pesquisadores observaram que a isorhamnetina dietética não estava ligada à
cognição global.
Os autores do estudo indicam que existe sim uma associação
entre maiores quantidades de flavonoides na dieta e declínio cognitivo mais
lento, mas que a pesquisa não prova que os flavonoides causam diretamente uma
taxa mais lenta de declínio cognitivo. Além disso, uma das importantes
limitações do estudo foi que o questionário de frequência alimentar, embora
válido, foi autorreferido, de modo que as pessoas podem não se lembrar com
precisão do que comem.
Referência:
Thomas Monroe Holland,
Puja Agarwal, Yamin Wang, Klodian Dhana, Sue E. Leurgans, Kyla Shea, Sarah L
Booth, Kumar Rajan, Julie A. Schneider, Lisa L. Barnes. Association of Dietary
Intake of Flavonols With Changes in Global Cognition and Several Cognitive
Abilities. Neurology, 2022; 10.1212/WNL.0000000000201541