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Dinheiro do médico

Dinheiro do médico
Crônicas de Anestesia
set. 25 - 6 min de leitura
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Uma pergunta muito comum que nos fazem assim que entramos na faculdade de medicina é: “Por que você quer ser médico?” Os motivos são muito individuais é claro mas a resposta mais frequente é: “Para ajudar os outros!” Digamos que esta seja a resposta certa. Claro, um médico ajuda as pessoas, isso é inerente à nossa profissão. Tratamos pessoas, com a saúde delas e seus corpos. Desta maneira as ajudamos.

Aqueles que se atrevem a responder:

"Escolhi medicina para ganhar dinheiro"

são logo mal vistos e eu confesso que não lembro de alguém responder desta forma nos meus primeiros anos de graduação. Sob pena de ser execrado como um egoísta, materialista, individualista sem coração muitos de nós escondemos esta resposta. Tanto que chegamos a nos enganar e nos convencer de que nunca pensamos assim. Será?

Durante a formação médica não temos nenhum tipo de instrução a respeito de finanças. Como vamos administrar nossa conta, um consultório, uma clínica, um hospital? Como seremos secretários de saúde sem este conhecimento? Não aprendemos e são poucos os que sabem o que fazer quando ganham o primeiro salário assim que estão formados. Pra onde vai o dinheiro do médico?

Nos dizem e nos convencem tacitamente de que médico é uma espécie de sacerdote. O dinheiro deve estar lá embaixo na lista de prioridades. Lucro então? Não, não pense nisso. Seja excelente, estude, esforce-se que o resto, inclusive o dinheiro, vem. Mas a realidade, especialmente em nosso país, é muito mais dura do que isto.

Escondemos de nós mesmos que queremos sim ser bem remunerados. Todas as pessoas em todas as áreas de atuação também querem. Não somos sacerdotes do templo de Apolo ou Esculápio. Somos profissionais. Adquirimos conhecimento a duríssimas penas. Nos estressamos das mais diversas formas e, acima de tudo, também temos contas para pagar. Nosso conhecimento é extremamente importante, pois lidamos com a vida e morte dia após dia. Uns mais, outros menos.

No entanto, basta demonstrar uma milésima parte disto que logo milhares de dedos nos apontam acusadoramente como individualistas, interesseiros, dinheiristas! Mas que grande hipocrisia é esta! Tirando aqueles que fizeram voto de pobreza(e nem estes!), todo o resto não tem um pingo de moral ou razão para ficarem estupefatos e surpresos quando um médico diz:”Eu sou individualista. Eu gosto de ganhar dinheiro. Eu gosto de ser bem pago, sim!”

Nos dias atuais, a remuneração médica sofreu uma grande queda quando comparamos com outras épocas. Quem deixou isto acontecer? Quando foi que deixamos de nos preocupar com nossos honorários em nome de uma postura mais “altruísta” e “solidária”? Quando foi que assinamos embaixo após alguém nos dizer que dinheiro não é nosso problema? Sejamos bem honestos neste momento.

Ninguém gosta de ser maltratado.

Quem vai gostar de ser atendido por um médico paupérrimo e/ou desestimulado que não pode se especializar, se atualizar ou mesmo atender em um lugar decente? Pois é exatamente isto que acontece se colocarmos em prática a falácia de que um médico deve ser alguém “desapegado do material”, uma criatura angelical que nunca visou o lucro. Nossos profissionais estão se formando com esta mentalidade e é justamente aí que está o grande erro.

Um médico, como nos ensina o código de ética, deve oferecer o seu melhor em conhecimento e em habilidade para tratar seus doentes. Isto é incompatível com alguém que não ganhe dinheiro. Pouquíssimos dos que andaram neste mundo tiveram este nível de desinteresse e dedicação. Certamente que são criaturas iluminadas, mas são casos muito, muito raros. Não podemos cobrar isso de nossos acadêmicos, de nossos residentes e recém-formados.

O médico bem-sucedido, honesto e correto é a prova final de que alguém precisa para ter confiança neste mesmo médico. Não pode ser mal-visto, como normalmente acontece. O médico que quer ganhar dinheiro melhora, trabalha e se aplica como qualquer outro profissional. Se quisermos uma ponte que não caia nós contratamos um engenheiro competente e ele será bem pago por isto. Se quisermos ganhar uma causa, vamos ao melhor advogado que podemos pagar. Por que com os médicos tem que ser diferente? Por que devemos atender em troca de nabos?

Os convênios, o SUS e sua tabela que é um insulto a qualquer inteligência, não nos tratam assim. Nosso trabalho é sub-remunerado incontáveis vezes. Outras tantas vezes nem mesmo recebemos. Enfrentamos uma burocracia gigantesca para receber muito pouco, muitas vezes. Assim que um médico passa atender apenas “no particular” é logo taxado de desumano, burguês individualista. Sim, é neste absurdo que vivemos.

Para encerrar, eu digo aos médicos em formação: Sim, vocês podem e devem ganhar dinheiro com medicina, nunca esquecendo os preceitos das boas práticas, das atualizações e da honestidade acima de tudo. Não há vergonha nenhuma nisto.

Voltando ao início e respondendo à pergunta: “Escolhi ser médico para ganhar dinheiro e assim ajudar muitas pessoas com meu trabalho.” Agora sim, uma resposta muito mais sensata e clara.

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