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Médico, você informa seus pacientes sobre as opções de tratamento e quais seus benefícios e malefícios?

Médico, você informa seus pacientes sobre  as opções de tratamento e quais seus benefícios e malefícios?
Isadora Mesadri
abr. 20 - 4 min de leitura
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Uma revisão de Cochrane — sobre os efeitos de uma intervenção usada em ambientes clínicos, de saúde ou de políticas públicas — analisou 105 estudos em que os pacientes expostos a auxílios de decisão fizeram escolhas mais informadas sobre seus cuidados de saúde e tiveram um papel mais ativo na tomada de decisões, sem efeitos negativos nos resultados ou na satisfação pós tratamento.

Apesar disso, as evidências sugerem que os pacientes tomam decisões sobre o tratamento da sua enfermidade sem terem sido apresentados a todas as opções de intervenção e suas respectivas evidências científicas de resolução do problema do paciente. 

Como exemplo, é possível analisar doenças ortopédicas que em sua maioria são resolvidas por cirurgias, mas que as evidências dessa conduta apontam que seus resultados não são superiores ao placebo ou intervenções não cirúrgicas, custam mais para o paciente e coloca-os em uma situação de maior risco de complicações. 

A cirurgia de fusão espinhal, usada para tratar ossos quebrados da coluna e algumas deformidades, como escoliose grave é o procedimento mais caro realizado na Austrália, porém não apresenta evidência cientifica maior que procedimentos não cirúrgicos. Segundo um artigo da Internal Medicine Journal, cerca de um em cada seis pacientes que passam por esse procedimento apresenta uma complicação grave, como infecção, coágulo sanguíneo, lesão nervosa ou insuficiência cardíaca. 

Além disso, há um impacto negativo na economia e nas atividades do paciente que se submete a essa cirurgia. De acordo com um estudo publicado na BMC Health Services Research apenas um em cada cinco trabalhadores que fizeram a cirurgia de  fusão espinhal retornam ao trabalho após dois anos e um em cada cinco faz outra cirurgia na coluna dentro desses dois anos.

Algumas vezes, a cirurgia é recomendada porque o tratamento não cirúrgico não funcionou. Infelizmente, o fracasso do tratamento não cirúrgico não torna a cirurgia ineficaz mais eficaz. A evidência disponível nos diz que os riscos e inconvenientes das cirurgias superam os benefícios potenciais.

Para Ian Harris, professor de cirurgia ortopédica na  Universidade de Nova Gales do Sul em Sydney, Austrália, os ensaios comparativos randomizados mostraram melhorias semelhantes entre os pacientes tratados com e sem cirurgia. Assim, se for analisado somente o grupo cirúrgico, pode-se dizer que a cirurgia os tornou melhores, mas comparando-os com o grau de melhora observado no grupo não cirúrgico, podemos dizer que a cirurgia não causou a melhora observada.

Dessa maneira, ao apresentar as possibilidades de tratamento para os pacientes, é necessário expor os benefícios e malefícios de todos os procedimentos possíveis para cada caso sem expressar juízo de valor em relação a um dos tratamentos como forma de manipular a pessoa a escolher a terapia que mais beneficia o médico. Com isso, o paciente terá mais autonomia, terá informações de alta evidência científica para a sua escolha e não terá expectativas equivocadas referente a seu tratamento, tendo menos insatisfação. 


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Referências 

  1. THE CONVERSATION. 3 orthopaedic surgeries that might be doing patients (and their pockets) more harm than good. 24/03/2022. Disponível em: https://theconversation.com/3-orthopaedic-surgeries-that-might-be-doing-patients-and-their-pockets-more-harm-than-good-179370. Acesso 19 de abril de 2022.

  2. ZADRO, Joshua et al. Development of a patient decision aid on subacromial decompression surgery and rotator cuff repair surgery: an international mixed-methods study. BMJ open, v. 11, n. 8, p. e054032, 2021.

  3. HARRIS, Ian A. et al. Lumbar spine fusion: what is the evidence?. Internal medicine journal, v. 48, n. 12, p. 1430-1434, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1111/imj.14120. Acesso em 19 de abril de 2022.

 


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