Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) publicaram um estudo transversal na revista Cardiology and Cardiovascular Medicine que contou com 120 pacientes e mostrou uma relação entre o histórico de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e o risco de novas doenças vasculares, incluindo novos episódios de AVC e infarto do miocárdio.
Utilizando o Escore de Cálcio Coronariano como parâmetro em 80 pacientes que haviam sido acometidos por AVC isquêmico e em outros 40 voluntários no grupo controle (sem histórico da doença). Obtido por meio de exames de tomografia, esse parâmetro serve como indicador indireto de risco de aterosclerose coronariana. Pacientes com um escore maior que zero correm mais risco de ter artérias doentes, mesmo que não manifestem nenhum sintoma. Sabe-se que mais de 90% dos casos de infarto do miocárdio são causados por aterosclerose, mas somente 25% dos casos de AVC isquêmico estão relacionados a esta condição.
O principal objetivo da pesquisa foi avaliar o escore de cálcio dos pacientes e identificar se haveria relação entre o valor deste parâmetro em pacientes que já haviam sido acometidos por AVC. Além disso, os pesquisadores observaram se os pacientes com estenose cervical e intracraniana sintomática devido à aterosclerose ≥ 50% teriam uma extensão maior de DAC (doença arterial coronariana) subclínica do que pacientes com estenose sintomática, exclusivamente cervical ou intracraniana ≥ 50%.
Dentre os pacientes que tiveram AVC, 85% tiveram um escore de cálcio acima de zero, em contraste com 57,5% dos indivíduos sem AVC prévio. Pacientes com AVC e placas de aterosclerose tanto em artérias cervicais quanto intracranianas tiveram os escores de cálcio mais altos que os demais participantes da pesquisa. Os pesquisadores reiteram que não necessariamente estes pacientes terão um infarto ou outro AVC, mas o fato de terem esse resultado mesmo já fazendo tratamento específico acende um alerta. Isto porque os pacientes com histórico de AVC utilizam medicamentos que por si só deveriam prevenir a doença coronariana. São controlados fatores de risco para aterosclerose, como hipertensão arterial e diabetes.
Os autores do estudo chamam atenção para o fato de que pacientes que tiveram AVC podem apresentar sequelas cognitivas e apresentar dificuldades na adesão ao tratamento. Os resultados sugerem que eles precisariam ser acompanhados mais de perto, por exemplo, pelos profissionais do Programa de Saúde da Família do SUS [Sistema Único de Saúde]. Essa e outras estratégias poderiam evitar que morressem de problemas cardíacos, mesmo tendo sobrevivido ao AVC.
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Referências:
Ana Luíza Vieira de Araújo, Raul Dias dos Santos Filho, Marcio Sommer Bittencourt, Roberto Nery Dantas Junior, Carlos André Oshiro, Cesar Higa Nomura, Edson Bor-Seng Shu, Marcelo de Lima Oliveira, Claudia da Costa Leite, Maria da Graça Morais Martin, Maramelia Miranda Alves, Gisele Sampaio Silva, Victor Marinho Silva, Adriana Bastos Conforto. Association of Subclinical Coronary Artery Disease and Ischemic Stroke Caused by Cervical or Intracranial Atherosclerosis. Cardiology and Cardiovascular Medicine 5 (2021): 17-31.
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