Apesar de ainda muito utilizado, o acesso transfemoral para realização de cateterismo cardíaco é menos seguro quando comparado com a via, especialmente no infarto agudo do miocárdio (IAM). Uma metanalise que analisou sete estudos, publicada na revista científica Circulation demonstrou que a abordagem por via radial de fato está associada com um menor risco tanto de morte quanto de sangramentos.
As diretrizes europeias e americanas já endossam o uso preferencial de uma abordagem transradial (TRA) sobre uma abordagem transfemoral (TFA) em pacientes que necessitam de cateterismo coronariano. A TRA tem sido associada a uma menor incidência de sangramento relacionado ao local de acesso e complicações vasculares em comparação com a TFA.
Esta foi a primeira grande metanálise de dados individuais, em nível de paciente de ensaios clínicos randomizados multicêntricos de alta qualidade, para investigar o impacto do acesso da artéria radial versus femoral para angiografia coronária ou intervenção coronariana percutânea (ICP) na mortalidade e sangramento maior. A pesquisa incluiu dados agrupados de sete estudos, com um total de 21.600 pacientes, dos quais 10.775 foram randomizados para TRA e 10.825 foram randomizados para TFA. A idade mediana dos participantes foi de 63,9 anos, 31,9% eram mulheres, 95% apresentavam síndrome coronariana aguda e 75,2% foram submetidos à ICP.
O desfecho primário analisado foi mortalidade por todas as causas em 30 dias e o desfecho co-primário foi sangramento maior em 30 dias. A análise primária foi realizada com base na coorte de intenção de tratar. A incidência de morte por todas as causas foi de 1,6% no grupo TRA e 2,1% no grupo TFA. A ocorrência de sangramento maior, por sua vez, também foi significativamente reduzido com TRA versus TFA, ocorrendo em taxas de 1,5% e 2,7%, respectivamente.
Além disso, a TRA foi independentemente associada a uma redução significativa do risco relativo de 24% de mortalidade por todas as causas em trinta dias e redução de 51% de sangramento maior, em comparação com o acesso femoral. A análise de mediação mostrou que o benefício da TRA na mortalidade não se deve apenas pela prevenção de sangramento.
O estudo indica conclusivamente um impacto prognóstico favorável do acesso radial em termos de sobrevivência. Os autores ressaltam que as vantagens da TRA em relação a mortalidade, sangramento maior e outros desfechos clínicos se aplicam principalmente a pacientes com síndrome coronariana aguda e não podem ser totalmente estendidas a pacientes eletivos submetidos à cineangiocoronariografia.
Por fim, os pesquisadores concluem que o acesso radial deve ser considerado o padrão-ouro para pacientes submetidos a cateterismo, apoiando a abordagem “radial-first”.
Referência:
Gargiulo G, Giacoppo D, Jolly SS, Cairns J, Le May M, Bernat I, Romagnoli E, Rao SV, van Leeuwen MAH, Mehta SR, Bertand OF, Wells GA, Meijers TA, Siontis GCM, Esposito G, Windecker S, Jüni P, Valgimigli M; Radial Trialists' Collaboration. Impact on Mortality and Major Bleeding of Radial Versus Femoral Artery Access for Coronary Angiography or Percutaneous Coronary Intervention: a Meta-analysis of Individual Patient Data from Seven Multicenter Randomized Clinical Trials. Circulation. 2022 Aug 29. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.122.061527. Epub ahead of print. PMID: 36036610. Disponível em https://www.ahajournals.org/doi/abs/10.1161/CIRCULATIONAHA.122.061527
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