Residência Médica é treinamento em Serviço
“A vida é curta demais para vivermos de acordo com o que pensam os outros”. (Steve Jobs)
O sistema de especialização em medicina, baseado na Residência Médica(RM), iniciou-se em 1889, em Baltimore, no Hospital da John’s Hopkins University.
O notável cirurgião William Halsted convocou quatro ex-internos como residentes em cirurgia e cujo treinamento determinava responsabilidade progressiva na execução de cirurgias e nos estudos de cuidados pré e pós-operatórios, além de cuidar dos pacientes operados no período da noite, por isso residiam no Hospital.
A partir de 1890, um paradigma da medicina clínica, William Osler, também na John’s Hopkins, passou a adotar o mesmo sistema para a especialização em Medicina Interna.
O sistema de RM se afirmou e se difundiu e já em 1927 a Associação Médica Americana, reconhecendo sua necessidade como treinamento de pós-graduação, publicou a primeira relação de hospitais cadastrados na execução dos programas de residência médica.
Seguindo o modelo norte-americano, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo implantou, em 1945, o primeiro programa de residência, na especialidade de Ortopedia. Em 1948, o Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro iniciou RM em Cirurgia Geral, Clínica Médica, Pediatria e Ginecologia-Obstetrícia.
Em 1967, foi criada a Associação Nacional de Médicos Residentes( ANMR), reconhecida pela Associação Médica Brasileira e o decreto 80.281 de 5 de setembro de 1977 regulamentou a RM e criou a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).
O mister da Residência Médica seria permitir ao médico recém-formado aperfeiçoar-se nas diferentes especialidades e teria como principal característica o treinamento em serviço, sob a orientação de profissionais qualificados em instituições de saúde, universitárias ou não.
O residente quando achar que o seu programa de treinamento não está funcionando adequadamente, ou não foi lhe entregue no primeiro dia de residência médica, conforme orientações da CNRM, deve encaminhar à COREME da sua instituição a sua queixa, ou melhor, pela Associação dos Médicos Residentes da sua Instituição, e se não sentir-se satisfeito com os encaminhamentos definidos, deve levar à Comissão Estadual da Residência Médica (CEREM) as suas insatisfações.
Na Residência Médica, e também no Internato, o ensino/aprendizagem deveria ser preferencialmente centrado no estudante e no paciente e ser realizado com a integralidade das dimensões biopsicossocial, contribuindo para humanização da medicina contemporânea, formando médicos humanos e com compaixão pelo sofrimento humano, preocupados em cuidar não somente da doença que o paciente tem, mas sim de todas as suas necessidades.
O objetivo fundamental de um programa de RM é de produzir médicos habilitados e humanos baseados em treinamento em Serviço. Para se atingir este desiderato, o foco é direcionado ao aprendizado de destrezas, de habilidades clínicas e cirúrgicas e a um plano de responsabilização gradual do residente relativo ao paciente, para que ao final, o residente alcance um desempenho ideal no papel de médico.
Sendo assim, e, concluindo: os programas de residência médica de cada especialidade deveriam ser fortemente fundamentados no treinamento em serviço; orientada ao paciente, discutida com problemas reais, autodirigida, desestimular as sessões didáticas ( aulas); centrar o foco de aprendizagem no paciente e no seu problema; Ensinar a prática da medicina com abordagem na problematização e na melhor evidência científica da medicina.
João Carlos Simões é editor científico da revista do médico residente, professor de cancerologia cirúrgica da Faculdade Evangélica do Paraná e escritor da Academia Médica
Texto publicado em 01/12/2012