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Estudo demonstra que SARS-CoV-2 pode permanecer no organismo por tempo superior ao recomendado para isolamento

Estudo demonstra que SARS-CoV-2 pode permanecer no organismo por tempo superior ao recomendado para isolamento
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jan. 14 - 5 min de leitura
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Uma parceria entre pesquisadores da USP e Instituto Pasteur resultou em um artigo, publicado na revista Frontiers in Medicine em novembro de 2021, que demonstra que a liberação de pacientes com COVID-19 após sete, dez ou mesmo 14 dias do diagnóstico, como previam os protocolos iniciais de combate à COVID-19, pode não ser adequada. Além disso, reforça a necessidade da vacinação e de se manter o distanciamento social e o uso de máscaras.

O estudo é uma investigação molecular de pacientes sintomáticos, levemente afetados, amostrados entre abril de 2020 e novembro de 2020 na cidade de São Paulo. No total, 721 pacientes com sintomas foram rastreados para a detecção de RNA viral de SARS-CoV-2. Esse primeiro critério de inclusão consistiu na presença de sintomas de resfriado/gripe, como febre e/ou sintomas respiratórios (tosse, falta de ar e dor de garganta), seguindo critérios recomendados pelas diretrizes do Ministério da Saúde do Brasil para a Doença de diagnóstico e tratamento da COVID -19. Trinta e oito pacientes com teste de detecção de SARS-CoV-2 positivo foram identificados. 

A duração da positividade após o início dos sintomas não foi significativamente diferente ( p - valor = 0,3531) entre os sexos biológicos feminino (média 22,67 dias ± DP 19,88) e masculino (média 33,34 ± DP 41,71). Do total de pacientes pesquisados, 7,9% (3/38) deles foram positivos para RT-qPCR por um período “atípico” e foram considerados “outliers”, como uma mulher (71 dias) e dois indivíduos do sexo masculino (81 e 232 dias). Os pacientes sintomáticos positivos apresentaram um amplo espectro de sintomas leves da doença, sendo os mais frequentes coriza, ageusia e/ou anosmia, tosse, febre, cefaleia, mialgia, congestão nasal e presença de escarro.

Baseados nesse resultado, pode-se afirmar que cerca de 8% dos infectados pelo SARS-COV-2 podem apresentar capacidade de transmissão do vírus por mais de dois meses, sem necessariamente apresentar qualquer sintoma durante a fase final da infecção.

Um desses outliers apresentou um quadro bastante peculiar em relação à positividade ao longo do tempo. O paciente do sexo masculino, de 38 anos, havia previamente sido diagnosticado com HIV sem AIDS, confirmado por diagnóstico molecular negativo para infecção pelo HIV e níveis normais de linfócitos T CD4 + e CD8 + antes e após a infecção por SARS-CoV-2. O paciente não apresentava nenhuma outra comorbidade, iniciou quadro clínico compatível com o quadro clássico causado por COVID-19 em 21 de abril de 2020, notadamente febre, astenia, cefaleia, tosse, coriza, ageusia e anosmia até 11 de maio de 2020. No total, os sintomas duraram 20 dias. Até 232 dias após o início dos sintomas, o paciente ainda era positivo no ensaio de RT-qPCR para a presença de vRNA. 

Além dos testes semanais que detectaram a persistência da infecção, o paciente teve amostras do vírus regularmente sequenciadas, o que permitiu aos pesquisadores afirmarem que não foi um caso de reinfecção. Além disso, mostraram que o vírus seguia não apenas se replicando como sofrendo mutações.

A positividade para HIV não indica necessariamente que ele seja mais suscetível a outras infecções, uma vez que mantém tratamento desde o diagnóstico. Sua capacidade de responder a uma infecção por outro agente é comparável com a de qualquer pessoa, tanto que ele respondeu ao coronavírus desde o início da infecção, não se tratando, então, de um indivíduo imunossuprimido.

Esses resultados demonstram, segundo os autores do estudo, que a melhor maneira de controlar a pandemia de COVID-19 é por meio do uso adequado de máscaras e evitando aglomerações. Se, após 14 dias do teste positivo o indivíduo não é testado novamente, ele pode ter ainda vírus ativos e ser capaz de infectar outros, contribuindo para a transmissão comunitária. Os pesquisadores concluem que o acompanhamento de infectados é fundamental para o melhor conhecimento de mutações, novas variantes e da capacidade de transmissão do SARS-CoV-2.

 

Referências:

Cunha MDP, Vilela APP, Molina CV, Acuña SM, Muxel SM, Barroso VM, Baroni S, Gomes de Oliveira L, Angelo YS, Peron JPS, Góes LGB, Campos ACA, Minóprio P. Atypical Prolonged Viral Shedding With Intra-Host SARS-CoV-2 Evolution in a Mildly Affected Symptomatic Patient. Front Med (Lausanne). 2021 Nov 26;8:760170. doi: 10.3389/fmed.2021.760170. PMID: 34901074; PMCID: PMC8661089.

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