As startups da saúde, chamadas "Health Tech", prometem melhorar a experiência do paciente, a saúde da população, a vida dos profissionais de saúde, reduzir os custos e gerar novas fontes de receita.
De acordo com a CB Insights, apenas nos últimos três meses de 2020, as startups de saúde receberam quase US$ 22 bilhões em investimentos. As inovações na saúde acontecem aos montes em todo o mundo, mas um risco é que parte delas é fundada e/ou dirigida por pessoas externas à saúde: programadores, engenheiros, administradores e outros.
Como alguns de vocês já sabem, fui um dos gestores do iFood S/A, e resolvi adentrar esse setor de Health Tech para tentar ajudar a reduzir a ineficiência do mercado da saúde, que segundo a ABRAMGE, poderia gerar uma economia de até R$ 150 bilhões de reais por ano, apenas ao SUS.
Participando ativamente desse hub de informação que a Academia Médica me proporciona, entendi que não faltam empresas inovadoras na saúde, que prometem melhorar a experiência do paciente, a saúde da população e a vida dos profissionais de saúde ao mesmo tempo em que cortam custos ou trazem novas fontes de receita.
O que não vemos, é que, por trás das grandes manchetes sobre essas Health Techs, existem dois mundos totalmente diferentes: um habitado pelos profissionais da saúde, e outro, pelos profissionais de tecnologia. E, infelizmente, em boa parte das vezes, esses mundos não conseguem se comunicar de forma eficaz e acabam tomando decisões conflitantes ou ruins, nas quais ganha o lado mais forte: dos fundadores, conselheiros, investidores, provavelmente nessa ordem de importância.
Como gestor na principal Food Tech do Brasil, essa questão também atingiu o mercado de Delivery, na qual a pouca participação das associações de classe, restaurantes e grupos de restaurantes acabou acarretando em decisões de mercado que originaram padrões que não agradam os principais players dele (grandes redes de restaurantes, grupos de investimento em restaurantes, associações de restaurantes, pequenos restaurantes). Basta perguntar para qualquer restaurante que você costuma frequentar para entender suas dores em relação aos grandes players e mercado do delivery on-line.
Provavelmente os restaurantes dirão que essas startups de delivery on-line são "um mal necessário."
Ainda contribuindo com essa linha, o artigo, "How to Engage Physicians in Innovative Health Care Efforts", da HBR (Harvard Business Review) sugere justamente essa importância de se ter mais médicos e profissionais da saúde principalmente investindo e contribuindo para a inovação no mercado da saúde.
Vale lembrar também dos principais pontos de inovação na "saúde digital", em que entram os aplicativos, dispositivos de inteligência aumentada, inteligência artificial e análise de dados.
Com a não participação adequada dos profissionais da saúde no trabalho, investimento ou conselho dessas startups corremos o risco de criar opções de soluções que não resolvem os problemas certos com base nas necessidades reais do usuário, ou pior, estragam o mercado assim como exemplificado no meu, o de Delivery On-line.
É isso que me motiva a fazer parte da Academia Médica, que é a principal comunidade que conecta médicos, residentes, enfermeiros, farmacêuticos, estudantes e demais profissionais e entusiastas do mercado da saúde, pois me permite obter novas perspectivas sobre as problemáticas e acontecimentos da saúde no Brasil e no mundo.
Por isso é importante que cada membro desta grande comunidade se envolva ativamente, pois a Academia Médica é um lugar onde os profissionais e inovadores da saúde compartilham novas necessidades, tecnologias, ciência e opiniões gerando oportunidades riquíssimas de interação e investimento nas inovações da saúde.
Ajude a liderar a criação da saúde digital.
por Dennis Nakamura
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Referências
Relatório do estado da saúde: tendências de investimento e setor a serem observadas. Publicado em 20 de janeiro de 2021. Acesso em https://www.cbinsights.com/research/report/healthcare-trends-q4-2020/
How to Engage Physicians in Innovative Health Care Efforts by Michael Hodgkins, Meg Barron, and Stacy Lloyd. Publicado em November 11, 2019. Acesso em https://hbr.org/2019/11/how-to-engage-physicians-in-innovative-health-care-efforts