Podemos pagar no presente ou pagar muito mais no futuro. Essa é a conclusão de um novo estudo revisado por pares, publicado em 4 de fevereiro na revista Science Advances, que compara os custos da prevenção de uma pandemia aos custos incorridos para tentar controlá-la.
Os pesquisadores estimaram que poderíamos reduzir bastante a probabilidade de outra pandemia investindo apenas 1/20 das perdas incorridas até agora com a COVID-19 em medidas de conservação projetadas para ajudar a impedir a propagação de vírus zoonóticos para os seres humanos.
Um ponto de partida inteligente, mostra o estudo, seria investir em programas para minimizar o desmatamento tropical e acabar com o tráfico de animais selvagens, interromper o comércio de carne selvagem na China e melhorar a vigilância e o controle de doenças em animais selvagens e domésticos em todo o mundo.
SARS-CoV-2, SARS, HIV, Ebola e muitos outros vírus que surgiram no século passado se originaram em animais selvagens de regiões remotas antes de se espalharem para humanos, observam os autores do estudo. As fronteiras das florestas tropicais, onde os humanos derrubaram mais de 25% das árvores para agricultura ou outros fins, são focos para essas transmissões de vírus de animais para humanos, assim como os mercados em que animais selvagens, mortos ou vivos, são comercializados para utilização na alimentação, medicina alternativa, como animais de estimação ou para outras finalidades.
O novo estudo, realizado por epidemiologistas, economistas, ecologistas e biólogos conservacionistas em 21 instituições, calcula que, investindo um valor igual a apenas 5% das perdas econômicas anuais estimadas associadas às mortes humanas por COVID-19 em proteção ambiental e vigilância de doenças em estágio inicial , os riscos de futuras pandemias zoonóticas podem ser reduzidos pela metade. Isso poderia ajudar a salvar cerca de 1,6 milhão de vidas por ano e reduzir os custos de mortalidade em cerca de US$ 10 trilhões por ano.
Uma recomendação importante do novo estudo é usar parte desse dinheiro para treinar mais veterinários e biólogos de doenças da vida selvagem. Outra orientação dos pesquisadores é criar um banco de dados global de genômica de vírus que possa ser usado para identificar a fonte de patógenos emergentes com antecedência suficiente para retardar ou interromper sua propagação e, em última análise, acelerar o desenvolvimento de vacinas e testes de diagnóstico.
A necessidade de implementar medidas preventivas o mais rápido possível é cada vez mais urgente, uma vez que as epidemias estão ocorrendo com mais frequência, estão ficando maiores e se espalhando para mais continentes e mais rapidamente, dizem os autores.
Os pesquisadores concluem que, em comparação com os custos e as perturbações sociais e econômicas associadas à tentativa de controlar os patógenos depois que eles já se espalharam para os seres humanos, prevenir epidemias antes que elas eclodam é a melhor estratégia econômica.
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Referências
- Bernstein AS, Ando AW, Loch-Temzelides T, Vale MM, Li BV, Li H, Busch J, Chapman CA, Kinnaird M, Nowak K, Castro MC, Zambrana-Torrelio C, Ahumada JA, Xiao L, Roehrdanz P, Kaufman L, Hannah L, Daszak P, Pimm SL, Dobson AP. The costs and benefits of primary prevention of zoonotic pandemics. Sci Adv. 2022 Feb 4;8(5):eabl4183. doi: 10.1126/sciadv.abl4183. Epub 2022 Feb 4. PMID: 35119921; PMCID: PMC8816336. Disponível em https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abl4183