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Dia Mundial do Coração 2021: "Use o coração para se conectar"

Dia Mundial do Coração 2021: "Use o coração para se conectar"
Caroline Ahrens Ortolan
set. 29 - 6 min de leitura
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A saúde digital pode ajudar a conectar todos os corações em todos os lugares e, assim, nos aproximar mais de alcançar a saúde cardiovascular para todos.

Em 29 de setembro de 2021, a Federação Mundial do Coração, seus membros e a comunidade em geral se reúnem para celebrar o Dia Mundial do Coração. Este ano, a chamada à ação é “Use o coração para se conectar”.

Em um artigo publicado no periódico The Lancet em 28 de setembro, Fausto Pinto, da World Heart Federation, em conjunto com colaboradores de outros países e organizações, buscou descrever a atual situação da saúde do coração no contexto da pandemia de covid-19. Embora o número de mortes causadas por Covid-19 continue a subir para 5 milhões, as doenças cardiovasculares (DCV) levam cerca de 18,6 milhões de vidas todos os anos. A pandemia de covid-19 acelerou a adoção da prática da telemedicina, criando uma oportunidade de fortalecer a resposta e o combate à DCV. Com o aumento do acesso à internet e por meio de dispositivos habilitados para telemedicina e inteligência artificial (IA), os avanços na saúde digital fornecem um impulso para melhorar o acesso e alcançar maior equidade nos cuidados de saúde para milhões de pessoas em risco de ou vivendo com DCV, particularmente aqueles em ambientes com poucos recursos e acesso limitado a tratamento presencial.

Embora esta transformação digital não seja uma fórmula mágica, ela pode ajudar a redesenhar o cenário da assistência médica, melhorando o acesso de populações carentes e reduzindo as pressões sobre os sistemas de saúde sobrecarregados. As tecnologias digitais também podem capacitar as pessoas, proporcionando-lhes mais controle de seu bem-estar na doença e na saúde.

Um ensaio no Reino Unido feito com uma ferramenta digital de saúde para o tratamento da hipertensão é um bom exemplo, segundo os autores. A tecnologia facilita o automonitoramento de pressão arterial e inclui lembretes e mudanças de medicamentos predeterminadas combinadas com suporte para mudança de comportamento. O estudo mostrou que a ferramenta levou a um melhor controle da pressão arterial sistólica após 1 ano em comparação com os cuidados habituais. A aplicação crescente de IA ao eletrocardiograma é outro exemplo de aproveitamento de IA no tratamento de DCV.

O potencial do gerenciamento remoto de DCV foi destacado na pandemia de covid-19, quando as consultas médicas presenciais não foram possíveis em muitos locais. As lições aprendidas - tanto positivas quanto negativas - com essa mudança para cuidados habilitados digitalmente podem facilitar o uso da saúde digital para a prevenção e gestão de DCV em todo o mundo.
A saúde digital também tem um papel a desempenhar na abordagem das desigualdades na saúde e no aumento do acesso aos cuidados de saúde em locais com poucos recursos. Por exemplo, à medida que a saúde digital se expande, os governos precisam reconsiderar as abordagens de investimento em treinamento médico e em infraestrutura e acesso à tecnologia.

Os resultados de um teste de saúde digital em um hospital comunitário com um número limitado de médicos na zona rural do Quênia são um indicador do que poderia ser alcançado. Os pacientes puderam consultar médicos e especialistas de forma on-line sobre sua saúde em geral, incluindo sua pressão arterial. O estudo mostrou que a telemedicina foi eficaz em melhorar o controle da pressão arterial sistólica e deu aos pacientes acesso a medicamentos de qualidade e acessíveis.

Existem desafios em relação à conscientização, acessibilidade e disponibilidade da tecnologia necessária que precisarão ser superados no caminho para o aumento do uso da saúde digital. O acesso à tecnologia digital e à infraestrutura de rede em países de baixa e média renda é insuficiente. Existem cerca de 3,7 bilhões de pessoas, principalmente em países de baixa renda, que estão off-line. Onde quer que ocorram, discorrem os autores de artigo, é crucial que os avanços na saúde digital não exacerbem a desigualdade na assistência à saúde.

Além disso, nem toda inovação tecnológica é necessariamente boa e é importante entender qual é o problema que precisa ser resolvido e garantir que a coleta de dados e evidências seja confiável, impactante e segura. Grande parte da pesquisa digital em saúde ocorre em populações selecionadas em países de alta renda. Assim, algoritmos derivados de IA são influenciados pelo gênero, etnia, idade e status socioeconômico da população da amostra. Isso demonstra a necessidade da mesma qualidade de dados em todos os lugares, representando de forma homogênea todas as populações. O desenvolvimento da saúde digital oferece uma oportunidade para corrigir esse desequilíbrio e equalizar a estrutura de dados para DCV e outras doenças.

Também é preciso levar em consideração os impactos da saúde digital na relação entre o paciente e o médico. Com os pacientes potencialmente possuindo muito mais dados de saúde, o diálogo com os médicos provavelmente mudará. No entanto, o crescimento da saúde digital nunca deve comprometer a confiança entre pacientes e médicos, o que é essencial para boas práticas e resultados. As soluções digitais de saúde não são uma panacéia e só podem complementar um sistema de saúde totalmente financiado e dotado de pessoal. Junto com a manutenção da confiança entre profissionais e pacientes, a jornada em direção ao uso rotineiro de cuidados de saúde digital já começou.

Referências:

Pinto, J. F.; Piñeiro, D.; Banerjee, A.; Perel, P.; Pervan, B.; Eiselé, J. World Heart Day 2021: COVID-19, digital health, and tackling cardiovascular disease. The Lancet, 28 de setembro de 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)02144-9

 

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