A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) publicou no dia 07 de outubro uma nota de alerta com o objetivo de explicitar a importância do contato com ambientes naturais na recuperação de crianças e adolescentes no contexto da pandemia de COVID-19.
Crianças e adolescentes estão experimentando e sentindo o impacto da COVID-19 de várias maneiras diferentes: mudanças na relação com a escola, maior permanência em casa com as famílias, aumento do tempo de uso de telas, assim como mudanças em sua saúde física, emocional e bem-estar. Pesquisadores em todo o mundo ainda tentam estimar os impactos emocionais, físicos e cognitivos do longo tempo de isolamento decorrente da pandemia e do estresse dentro das famílias.
De acordo com o documento, uma metanálise que avaliou dados de 29 estudos, incluindo 80.879 jovens de todo o mundo, concluiu que as estimativas de incidência de depressão e ansiedade infantil e no adolescente, durante a pandemia de COVID-19 são da ordem de 25,2% e 20,5%, respectivamente. O estudo concluiu ainda que a prevalência de sintomas de depressão e ansiedade durante a COVID-19 dobrou, em comparação com as estimativas prévias.
No Brasil, uma pesquisa realizada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, crianças da pré-escola, entre quatro e cinco anos, apresentaram sinais de déficit no desenvolvimento da expressão oral e corporal no período de suspensão das aulas presenciais, de acordo com a avaliação dos educadores.
Em relação aos adolescentes no Brasil, uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre os impactos da pandemia nessa população apontou que 48,7% têm sentido preocupação, nervosismo ou mau humor, na maioria das vezes ou sempre. Houve aumento no consumo de doces e congelados, bem como no sedentarismo: o percentual de jovens que não faziam 60 minutos de atividade física em algum dia da semana antes da pandemia era de 20,9%, e passou a ser de 43,4%.
A entidade reforça que todos os esforços possíveis devem ser feitos a fim de mitigar os impactos da pandemia e fortalecer essa geração que irá enfrentar tantos desafios, incluindo os impactos das alterações climáticas, a desigualdade social e econômica, e as consequências das rápidas mudanças tecnológicas. Há evidências sólidas, de acordo com a nota, de que criar e possibilitar o acesso de crianças, jovens e famílias a espaços naturais diversos e acolhedores pode contribuir muito para a recuperação de sua saúde e bem-estar, bem como para o fortalecimento de vínculos e conexões sociais.
As áreas verdes são soluções baseadas na natureza não apenas para as questões ambientais, mas também para a melhoria da saúde pública. Simultaneamente, aumentar o número de áreas verdes seguras e conservadas, e distribuí-las de forma mais equânime no território, ajudam a construir cidades mais seguras, sustentáveis, resilientes, includentes e solidárias.
As atividades físicas, naturalmente desenvolvidas em contato com a natureza, apresentam potencial para reduzir a gravidade das infecções por COVID-19 pelos efeitos positivos já conhecidos dos exercícios sobre a imunidade, hábitos de sono, pressão arterial, controle do peso, glicemia e infecções respiratórias virais. Adicionalmente os benefícios para a saúde mental são enormes, desde a redução do estresse contínuo e dos sintomas de depressão e ansiedade, com reequilíbrio hormonal do cortisol e sua repercussão no sistema imunológico e nas inflamações.
O documento traz ainda recomendações pontuais para pediatras, familiares e gerais:
- Orientar que as crianças e adolescentes tenham acesso diário, no mínimo por uma hora, a oportunidades de brincar, aprender e conviver com a - e na - natureza para que possam se desenvolver com plena saúde física, mental, emocional e social;
- Acolher famílias apreensivas e impactadas com perdas, traumas e medos, e avaliar junto aos pais e mães formas seguras de realizar atividades de lazer a céu aberto, ressaltando o efeito terapêutico e curativo que esses momentos podem trazer;
- Sugerir e incentivar que as escolas incluam aprendizagens ao ar livre nos protocolos de retomada das aulas presenciais. O uso de espaços ao ar livre, como pátios, quadras e jardins, se apresenta como uma forma de diminuir os riscos de transmissão do coronavírus e, ao mesmo tempo, colabora na promoção de saúde e bem-estar dos educadores e estudantes.
Referências:
O papel da natureza na recuperação da saúde e bem-estar das crianças e adolescentes durante e após a pandemia de COVID-19. Disponível em:
Artigos relacionados:
Sobre o fardo da responsabilidade e as pequenas alegrias da vida
Crianças mais novas transmitem mais COVID dentro de casa que as mais velhas
Publique na Academia Médica! Clique no passo a passo e saiba como