Os microplásticos são partículas geradas durante o longo
processo de decomposição do plástico, que pode durar mais de cem anos. Ao
longo do tempo, micropartículas se desprendem de objetos feitos de plástico e, justamente
por serem muito pequenas, ficam suspensas no ar. Assim, podem se juntar a
outras micropartículas de poluição e também a patógenos, podendo ser
inalados em conjunto pelos seres humanos.
Uma equipe de
pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) buscou avaliar se há uma
correlação entre a quantidade de microplástico presente no ar e o vírus
causador da Covid-19, o Sars-CoV-2. Eles coletaram amostras de ar nos arredores
de um hospital no início de 2022 e observaram que os filtros com mais
quantidade de microplástico também apresentavam uma carga maior de RNA do
SARS-CoV-2. Os resultados do estudo, publicado no
periódico Environmental Pollution, sugerem que o vírus pode
se ligar às partículas de microplástico suspenso no ar e ser mais facilmente
carreado para dentro do corpo humano.
O
material encontrado no ar foi analisado em microscópio de fluorescência e todos
os instrumentos usados pelos pesquisadores (luvas, recipientes e materiais)
eram livres de plástico para evitar contaminação. A composição polimérica
(diferentes tipos de plástico) foi caracterizada por microespectroscopia de
infravermelho. A carga viral foi, por sua vez, quantificada por teste de
rtPCR.
Os
pesquisadores obtiveram resultado positivo para SARS-CoV-2 em 22 das 38
amostras coletadas (57,8%). O poliéster foi o polímero mais frequente, presente
em 80% dos casos. Os resultados sugerem uma curva exponencial, que demonstra
que quanto maior a quantidade de microplásticos, maior a quantidade de
partículas virais.
Por
fim, os autores afirmam que devemos esperar aumentos substanciais nos
microplásticos presentes no ambiente devido ao uso generalizado de
descartáveis (incluindo equipamentos de proteção) durante a pandemia. Eles
concluem que o campo de pesquisa sobre a interferência da poluição na saúde
humana está apenas começando e que mais esforços são necessários para evitar
complicações e agravamentos na transmissão de patógenos.
Referências:
Amato-Lourenço LF, de Souza Xavier Costa N, Dantas KC, Dos Santos Galvão
L, Moralles FN, Lombardi SCFS, Júnior AM, Lindoso JAL, Ando RA, Lima FG,
Carvalho-Oliveira R, Mauad T. Airborne microplastics and SARS-CoV-2 in total
suspended particles in the area surrounding the largest medical centre in Latin
America. Environ Pollut. 2022 Jan 1;292(Pt A):118299. doi:
10.1016/j.envpol.2021.118299. Epub 2021 Oct 7. PMID: 34626707; PMCID:
PMC8494494. Disponível em https://www.sciencedirect.com/
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