A exposição a longo prazo à poluição do ar está ligada ao maior risco de doenças autoimunes — em particular: artrite reumatoide, doenças do tecido conjuntivo e enfermidades inflamatórias intestinais, segundo uma pesquisa publicada on-line no periódico RMD Open, em 15 de março de 2022.
Segundo os autores, a poluição do ar por exaustão de veículos e produção industrial pode desencadear imunidade adaptativa — pela qual o corpo reage a uma entidade específica causadora de doenças.
No entanto, a resposta imune pode falhar, provocando inflamação sistêmica, dano tecidual e, eventualmente, doenças autoimunes. A exposição a partículas já foi associada a ocorrência de problemas como:
•Derrames;
• Câncer no cérebro;
• Aborto;
• Problemas ligados ao adoecimento mental.
Além disso, todas as células do corpo podem ser afetadas pelo ar sujo, segundo revisão global, publicada em 2019. Tanto a incidência quanto a prevalência dessas condições aumentaram constantemente na última década e, as razões ainda não são totalmente nítidas. O que se sabe é que a poluição do ar está ligada a maior probabilidade da ocorrência de doenças autoimunes.
Para se aprofundar na questão, os pesquisadores exploraram o Banco de dados nacional Italiano de risco de fratura (DeFRA) e recuperaram informações médicas abrangentes sobre 81.363 homens e mulheres enviadas por mais de 3.500 médicos entre junho de 2016 e novembro de 2020.
92% das pessoas que participaram da pesquisa são mulheres, com 65 anos, em média e 17.866 (22%) do grupo afirmou ter pelo menos uma condição de saúde coexistente. Cada paciente foi vinculado à estação de monitoramento da qualidade do ar mais próxima por meio de seu código postal residencial.
O estudo analisou a exposição média de longo prazo ao material particulado fino (conhecido como PM10 e PM2,5), produzido por fontes como veículos e usinas de energia. Níveis de concentração acima de 30µg/m3 para PM10 e 20µg/m3 para PM2,5 são os limites considerados prejudiciais à saúde humana.
Os cientistas concluíram que a exposição geral a longo prazo a partículas acima desses níveis foi associada a, respectivamente, um risco de 12% e 13% maior de desenvolver uma doença autoimune.
Já a exposição a longo prazo ao PM10 foi associada a um risco aumentado de artrite reumatoide, enquanto a exposição a longo prazo ao PM2,5 foi associada a um risco aumentado de artrite reumatoide, doenças do tecido conjuntivo e enfermidades inflamatórias intestinais.
A exposição a longo prazo ao tráfego e poluentes do ar industrial foi associada aos seguintes riscos: 40% a mais de probabilidade no desenvolvimento de artrite reumatoide e aumento de um risco de 20% e 15%, no desenvolvimento doença inflamatória intestinal e enfermidades do tecido conjuntivo, respectivamente.
Vale destacar que o estudo em questão é observacional. Por isso, os pesquisadores reconhecem várias limitações que podem ter afetado suas descobertas. Abaixo algumas delas:
• Falta de informação sobre as datas de diagnóstico e início dos sintomas da doença autoimune;
• Ciência de que o monitoramento da qualidade do ar pode não refletir a exposição pessoal aos poluentes;
• Consciência de que os resultados podem não ser mais amplamente aplicáveis porque as participantes do estudo eram em grande parte mulheres mais velhas em risco de fratura.
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Referência
- Adami G, Pontalti M, Cattani G, et al. Association between long-term exposure to air pollution and immune-mediated diseases: a population-based cohort study. RMD Open 2022;8:e002055. doi: 10.1136/rmdopen-2021-002055. Disponível em https://rmdopen.bmj.com/content/8/1/e002055. Acesso em março de 2022.