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Como a Telemedicina pode impactar a Saúde Digital

Como a Telemedicina pode impactar a Saúde Digital
Guilherme Rabello
fev. 27 - 9 min de leitura
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Artigo publicado inicialmente neste link.

No começo do século 20, quando o rádio ainda era um dos meios mais importantes para nos comunicarmos, a imaginação já corria solta sobre os potenciais usos desse meio de telecomunicação para se poder conectar os médicos aos pacientes, apesar da distância. A telemedicina não tinha ainda sua forma como conhecemos hoje, mas já havia discussões sobre o que ela poderia fazer.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o rádio foi utilizado de forma inovadora para ligar os médicos na frente de batalha aos hospitais de retaguarda. A revista Radio News, na edição de abril de 1924 (isso mesmo, a quase 100 anos atrás!) trouxe em sua capa a matéria “The Radio Doctor – Maybe!” (O rádio médico – Talvez!). Na década de 1960, com o início das viagens espaciais, foram desenvolvidos sistemas de comunicação por rádio para monitorar os sinais vitais dos astronautas, como os sinais gerados pelo aparelho Holter que eles portavam.

A partir da década de 1990, a telemedicina e a telessaúde passaram a ser encaradas como possíveis ferramentas de apoio e complementação ao tratamento de pacientes que estivessem longe de centros médicos ou de especialistas. Há que se esclarecer que telemedicina e telessaúde são termos muitas vezes usados como sinônimos, mas na prática é importante diferenciá-los. A telemedicina é uma ferramenta que faz parte da telessaúde.

Por conceito, telessaúde se refere a todas as atividades envolvidas nos cuidados assistenciais. O termo representa a aplicação de serviços de informação, tecnologias e telecomunicações direcionadas para a promoção da Saúde.

Telemedicina é uso de tecnologias de comunicação e de informação para realizar a prestação de serviços e treinamento em saúde, seja para provedores de assistência médica ou para pacientes.

A Telemedicina possui diversas formas de aplicação, segundo a natureza da atividade desejada, tanto clínica como educativa. Veja por exemplo algumas aplicações:

1.    Teleconsulta: geralmente utiliza-se um meio de comunicação interativo em que os participantes podem estabelecer uma conversação. Podem ser realizadas por meio de videoconferência ou videochamadas, telefone, internet, sistemas especiais integrados de comunicação ou simples aplicativos de interação disponíveis no mercado (como o Skype, Facetime, etc.).

2.    Teleintervenção: pode-se incluir as aplicações que permitem a realização de intervenções cirúrgicas à distância ou de controle de aparelhos ligados ao paciente (por exemplo um marcapasso). Nessa aplicação, as tecnologias de informação e a robótica somam forças, ampliando o campo de ação do médico.

3.    Telemonitorização (ou telemetria diagnóstica): sistemas e aplicativos de monitorização a distância de sinais vitais, com indicação de alarmes e até ações clínicas a serem tomadas (o uso da Inteligência Artificial e do Machine Learning irão ampliar muito estas opções). Alguns sistemas poderão ser dotados de portabilidade por meio dos wearables, permitindo ao paciente continuar a sua rotina de vida enquanto permanece sob monitoração e assistência clínica remota.

4.    Tele-educação: inclui sistemas de informação para a conscientização da população e da comunidade, a formação e atualização clínica de médicos e enfermeiros por meio de cursos continuados, dentre outras possíveis aplicações. A tele-educação poderá inclusive ser usada para engajar mais e melhor os pacientes em seu tratamento e cuidados com a Saúde.

 

Desafios da Telemedicina

A Telemedicina não apresenta só virtudes e potenciais. Existem vários desafios ainda a serem vencidos, que têm origem na necessidade de garantia de segurança da informação sobre o paciente e na dificuldade ético-legal de estabelecer níveis de responsabilidade entre os diversos atores: profissionais da saúde, administradores, agentes governamentais e principalmente – os pacientes!

No Brasil a nossa legislação para Telemedicina ainda está atrasada se comparada com outros países. O CFM está em discussão com a comunidade que lida com Telemedicina – médicos, professores, especialistas em Informática em Saúde etc.– para adequar a nova resolução do CFM (227/2018).

Os serviços já disponíveis de telessaúde e telemedicina no país, que em grande parte possuem utilização no SUS, já demonstraram sua viabilidade e impacto tanto social como clínico, o que no final resultam em melhor custo-efetividade no uso dos recursos públicos e privados. Apenas para citar alguns dados já publicados em estudos realizados:

  • O Centro de Telessaúde do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) coordena a Rede de Teleassistência de Minas Gerais, uma parceria de seis universidades públicas mineiras. Cerca de 2 mil eletrocardiogramas são analisados por dia. E o paciente não precisa ter gastos com transporte, alimentação e hospedagem, se for preciso. A coordenadora do núcleo de telessaúde do Hospital das Clínicas da UFMG, Beatriz Alckmin, ressaltou os benefícios da tecnologia. “Em média, 80% dos atendimentos por telessaúde evitam o encaminhamento de pacientes, o que gerou uma economia para o sistema público de saúde de cerca de R$ 80 milhões em oito anos de operação, comprovando a viabilidade econômica da prática”.
  • Estudos focais realizados pelos núcleos de telemedicina de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, mostram que a teleconsulta é capaz de evitar, em aproximadamente 70% dos casos, a necessidade de remoção de pacientes, já que esses são resolvidos nas próprias Unidades de Saúde da Família. Uma pesquisa de satisfação com as equipes que utilizam o serviço atestou ainda que 67% dos profissionais acreditam que a telessaúde contribuiu muito para romper a sensação de isolamento e para sua decisão de permanecer em localidades remotas.

A Telemedicina ainda está dando seus primeiros passos. Não deixam de ser passos largos e firmes, mas ainda existem muitas áreas de aplicação que ela pode e deve avançar com maior vigor. Há muito que fazer, mas a velocidade dos avanços não deixa dúvida de que a mudança já começou. Será preciso uma revolução cultural dentro da comunidade médica, mas ela já está acontecendo e vai impactar a Saúde Digital.

Cada vez mais médicos se envolvem com a telemedicina, e com isto podem teleguiar a prática médica.

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Leia também os artigos anteriores da série sobre Saúde Digital:

Você pode acompanhar outros textos sobre o tema seguindo a tag SAÚDE DIGITAL, clicando aqui.

Abraços a todos!

Guilherme Rabello

Gerência Comercial e Inteligência de Mercado

InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini

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