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Medicina por amor: tão clichê e tão verdade!

Medicina por amor: tão clichê e tão verdade!
Mayara Pinheiro Rodrigues Lucena
out. 11 - 4 min de leitura
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Este foi o primeiro ano no qual comemorei o Dia do Médico como médica, e ainda sinto o frio na barriga da primeira vez. Na verdade, todos os dia enfrento o desafio de alguma primeira vez: a primeira gestante com DST, o primeiro pé diabético, o primeiro RN com pneumonia, o primeiro idoso com suspeita de CA, o primeiro caso de abuso, a primeira depressão grave de difícil manejo...

Após refletir, percebo que eu posso até me acostumar com prescrições, doses e medicamentos, mas cada paciente sempre será único e merece ser tratado como o ser singular que é. Merece ser tratado com carinho, atenção e respeito, e merece ser entendido como um todo, com seu contexto individual, familiar, socioeconômico, religioso e intelectual. 

Hoje percebo o quanto a anamnese bem feita, assim como o exame físico fazem toda diferença. Perguntar  história, antecedentes e até se o paciente conhece o barbeiro faz tanto sentido, porque, pasmem amigos, nem todos têm casas luxuosas, limpas e bonitas como a nossa.

A maioria vive em condições tão precárias que a escabiose se torna mais difícil de tratar do que uma síndrome metabólica. 

E, há pouco mais de 4 meses exercendo minha profissão, me deparo diariamente também com as dificuldades do Sistema Único de Saúde, que, na prática, não tem muito da teoria. Não tem muito de assistência. Não tem muito de medicamento. Não tem muito de exames. Não tem muito de quase nada. E se não tiver muito de mim por cada paciente, me pergunto, o que será daqueles que estão à margem da sociedade? O que será de alguém que só é visto como um número a mais na lista de atendimentos? 

No consultório particular, atendendo pacientes com nível elevado de instrução, com poder aquisitivo para comprar medicamentos e realizar exames rapidamente é fácil ser doutor. O difícil é encarar a frustração da falta, é precisar desenhar sol e lua em cada receita, e ouvir muito mais do que a queixa principal, porque aquele indivíduo, muitas vezes, precisa mais ser ouvido do que tomar algum remédio. O difícil é encarar a revolta de saber que o problema vai muito além da saúde, mas se encontra em raízes tão profundas que só seriam alcançadas se não existisse um sistema tão corrupto em todas as searas das necessidades humanas. 

Hoje, percebo que ser doutor precisa ser por amor.
Tão clichê e tão verdade! 

É preciso amar o próximo e se doar por ele, dar seu máximo por ele, porque o remédio pode até não curar, mas, certamente, o amor transforma. 

Por isso, por favor, não me venha com “doutora, é só para olhar um exame”. Eu não sou médica de exame. Eu sou médica de gente! 

Que o Dia do Médico seja comemorado todos os dias para aqueles que entenderam o que significa essa profissão tão linda, e que recebem um presente com cada sorriso largo de um paciente que sai do consultório agradecido (e depois volta com um saco de macaxeira, rs).

Nota do editor: Texto publicado originalmente em 12/10/2019

Mayara P. Rodrigues Lucena é médica, formada pela Universidade Potiguar (2019), e trabalha na Estratégia de Saúde da Família.

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