A maioria das pessoas já sabe dos benefícios da prática regular de exercícios físicos para a saúde física, mas uma nova revisão sistemática e metanálise sugere que praticar exercícios físicos também pode fazer a diferença no transtorno depressivo maior. A depressão afeta cerca de 280 milhões de pessoas em todo o mundo e é a principal causa da carga de doenças relacionadas à saúde mental, observou o estudo. Está associada também à morte prematura por suicídio e outros problemas de saúde.
Os autores do estudo analisam 15 publicações com dados de associação sobre atividade física e depressão, que incluíram mais de 191.000 participantes no total. Os pesquisadores estimaram que cerca de 11,5% dos casos de depressão poderiam ter sido evitados com a prática de exercícios.
A atividade física foi associada a benefícios significativos para a saúde mental, mesmo quando a duração da prática ou a frequência eram inferiores à recomendada pelos órgãos de saúde pública, de acordo com os pesquisadores da Escola de Medicina Clínica da Universidade de Cambridge em Inglaterra. Os resultados do estudo foram publicados on-line em 13 de abril no JAMA Psychiatry.
As pessoas que praticam caminhadas rápidas por 2,5 horas por semana têm um risco menor de depressão do que as sedentárias, segundo o estudo. Eles utilizaram como base as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluem 150–3300 minutos de atividade de intensidade moderada ou 75–150 minutos de atividade de intensidade vigorosa por semana. A intensidade foi classificada de acordo com base no cálculo de mMETs (múltiplos de equivalentes metabólicos marginais), da seguinte forma: 1,5 mMET para leve, 3,5 mMET para moderada e moderada a vigorosa e 7,0 mMET para atividade física vigorosa, e estimaram o valor de mMETs em horas por semana.
Os pesquisadores descobriram que as pessoas que realizavam metade da quantidade recomendada de atividade física tiveram um risco 18% menor de depressão em comparação com adultos sem atividade. Aqueles que acumularam as horas recomendadas tiveram um risco 25% menor de depressão. Os autores do estudo observaram que os benefícios não aumentaram com práticas mais longas.
As associações observadas provavelmente são explicadas por mais de um mecanismo, sugerem os autores. As vias propostas incluem respostas neuroendócrinas e inflamatórias agudas à atividade, como a ativação do sistema endocanabinóide e adaptações de longo prazo, incluindo mudanças na arquitetura neural do cérebro. Explicações psicossociais e comportamentais também foram sugeridas, incluindo melhor autopercepção física e imagem corporal, mais interações sociais e o desenvolvimento pessoal de estratégias de enfrentamento. O aspecto social da participação na atividade pode operar mesmo em doses relativamente baixas, consistente com a curva dose-resposta que os pesquisadores observaram.
O papel do ambiente como potencial moderador da associação entre atividade física e depressão também deve ser considerado. Por exemplo, o uso de espaços verdes está associado a menor risco de depressão, com análise de mediação sugerindo que apenas parte da associação é explicada pela atividade física.
Os autores concluem, por fim, que as evidências acumuladas são claras na direção de que é necessário conversar sobre os benefícios do exercício para pacientes com depressão.
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Referência
1.Pearce M, Garcia L, Abbas A, et al. Association Between Physical Activity and Risk of Depression: A Systematic Review and Meta-analysis. JAMA Psychiatry. Published online April 13, 2022. doi:10.1001/jamapsychiatry.2022.0609 Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/fullarticle/2790780. Acesso em 19 de abril de 2022.