Você sabe quais são as diretrizes brasileiras para o tratamento de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19?
Recentemente, diversas sociedades médicas como: Associação Brasileira de Emergência Médica (ABRAMEDE), Associação Médica Brasileira (AMB), Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBFMC) e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT)] se uniram para desenvolver instruções sobre o assunto com o objetivo de guiar o tratamento farmacológico de pacientes com COVID-19 .
As recomendações foram publicadas no 17 de março de 2022 na Revista Brasileira de Doenças Infecciosas.
De acordo com os autores, na maioria das vezes, pacientes com COVID-19 apresentam manifestações clínicas leves, desenvolvendo sintomas como: febre, tosse seca e fadiga, com resolução autolimitada. No entanto, cerca 14% dos casos de COVID-19 evoluem para doença grave e podem exigir oxigenoterapia ou hospitalização, e 5% são internados em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Desde o início da pandemia , diversas terapias foram utilizadas ou propostas para seu tratamento, embora sua eficácia e segurança não tenham, muitas vezes, sido devidamente avaliadas.
Os pesquisadores avaliaram as bases de dados PubMed e MedRxiv para identificar ensaios clínicos randomizados avaliando o uso de cada uma das seguintes tecnologias para tratamento ambulatorial: anticoagulantes, azitromicina, anticorpos monoclonais, budesonida, colchicina, cloroquina e hidroxicloroquina, corticosteróides sistêmicos, ivermectina, nitazoxanida e plasma convalescente.
Para classificar as recomendações, foi utilizada a metodologia GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation), que categoriza as orientações em alto, moderado, baixo ou muito baixo nível de evidência.
Abaixo, um resumo das recomendações que constam na diretriz:
- Anticoagulantes: sugere-se não usar anticoagulantes em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação condicional, muito baixa evidência);
- Azitromicina: não é recomendado o uso do medicamento em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação forte, moderada evidência);
- Anticorpos monoclonais: não foi possível fazer uma recomendação quanto ao uso de anticorpos monoclonais em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (sem recomendação, moderada evidência);
- Budesonida: não se recomenda o uso do medicamento em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação condicional, baixa evidência);
- Colchicina: não recomenda-se o uso de colchicina em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação condicional, baixa evidência);
- Corticosteróides sistêmicos: não é recomendado uso de corticosteroides em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação não graduada);
- Cloroquina / Hidroxicloroquina: não recomenda-se o uso de cloroquina/hidroxicloroquina, isoladamente ou combinada com azitromicina, em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação forte, moderada evidência);
- Ivermectina: não é aconselhado o uso de ivermectina em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação condicional, baixa evidência);
- Nitazoxanida: não se recomenda o uso de nitazoxanida em pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação condicional, muito baixa evidência);
- Plasma convalescente: o uso de plasma convalescente não é indicado no caso de pacientes ambulatoriais com suspeita ou confirmação de COVID-19 (recomendação condicional, moderada evidência).
As recomendações na íntegra podem ser encontradas no artigo original.
Os autores das diretrizes afirmam que documento visa orientar o atendimento de pacientes ambulatoriais com COVID-19 no Brasil e destacam as incertezas existentes, principalmente quanto à ineficácia ou falta de benefício documentado da maioria dos medicamentos avaliados.
"Além das evidências disponíveis na literatura científica, as recomendações consideraram aspectos relevantes para o contexto brasileiro, como a disponibilidade de medicamentos, a aceitabilidade das intervenções pela população e pelos médicos e os custos associados. Além disso, a maioria das recomendações está atualmente em consonância com as abordagens terapêuticas recomendadas pelas principais organizações e sociedades internacionais, como a OMS, o NIH e a IDSA. [...] É importante ressaltar que, devido ao grande número de terapias emergentes para COVID-19, essas recomendações podem precisar ser atualizadas à medida que novas evidências aparecem, em particular ensaios clínicos randomizados de alta qualidade metodológica e novas declarações de posição emitidas por sociedades e organizações internacionais."
Achou o conteúdo relevante? Deixe seu comentário e, se possível, compartilhe!
Artigos relacionados
Uso de hidroxicloroquina (HCQ) e cloroquina por via inalatória passa a ser procedimento experimental
Hidroxicloroquina e Cloroquina no tratamento da COVID-19. Existem evidências científicas sólidas?
Qual foi o custo financeiro para as seguradoras das prescrições de ivermectina para COVID-19?
Referência
- FALAVIGNA, Maicon et al. Brazilian guidelines for the treatment of outpatients with suspected or confirmed COVID-19. A joint guideline of the Brazilian Association of Emergency Medicine (ABRAMEDE), Brazilian Medical Association (AMB), Brazilian Society of Angiology and Vascular Surgery (SBACV), Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology (SBGG), Brazilian Society of Infectious Diseases (SBI), Brazilian Society of Family and Community Medicine (SBFMC), and Brazilian Thoracic Society (SBPT). The Brazilian Journal of Infectious Diseases, p. 102347, 2022. Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1413867022000356. Acesso em 07 de abril de 2022.