A premiação do Oscar 2022 foi marcada por uma polêmica envolvendo Jada Pinkett Smith, esposa do ganhador de prêmio de melhor ator da noite, Will Smith, e o apresentador do evento, Chris Rock. O motivo foi um comentário feito por Rock sobre a aparência de Jada, que é portadora de uma condição que leva a queda capilar, a Alopecia areata.
O que é?
A Alopecia areata é, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), uma doença autoimune mediada por células T e inflamatória, para a qual não há cura, que provoca a queda de cabelo e afeta aproximadamente 2% da população geral. A fisiopatologia exata da doença permanece incerta, mas acredita-se que seja resultado do colapso do privilégio imunológico do folículo piloso por um mecanismo autoimune específico. Sabe-se que seu desenvolvimento também é fortemente influenciado pela genética, pois é mais frequente quando há casos em parentes de primeiro grau. No entanto, o papel do ambiente e da epigenética no desenvolvimento da alopecia areata tem sido cada vez mais discutido, pois a concordância entre gêmeos monozigóticos gira em torno de 55%.
Os fios caem mais frequentemente de forma a gerar falhas circulares sem pelos ou cabelos. A extensão da perda varia, sendo que, em alguns casos, poucas regiões são afetadas. Em outros, a perda de cabelo pode ser maior. Há, embora raros, casos de alopecia areata total, nos quais o paciente chega a perder todo o cabelo da cabeça; ou alopecia areata universal, condição que resulta na queda de pelos de todo o corpo, que pode ocorrer em cerca de 5% dos pacientes.
A alopecia areata, por ser uma condição autoimune, não é contagiosa. O quadro pode ser desencadeado ou agravado por fatores emocionais, traumas físicos e quadros infecciosos, e sua evolução não é previsível. O cabelo sempre pode crescer novamente, mesmo que haja perda total, uma vez que não há destruição dos folículos pilosos. No entanto, surtos podem ocorrer.
Sintomas
A alopecia areata não possui nenhum outro sintoma específico além da perda brusca de cabelos, se apresentando em áreas arredondadas, únicas ou múltiplas, sem demais alterações. A pele se torna lisa e brilhante e os pelos ao redor da placa saem facilmente se forem puxados. Os cabelos, quando renascem, podem ser brancos, adquirindo posteriormente sua coloração normal.
Além disso, ela pode vir acompanhada de outras doenças autoimunes, como vitiligo, problemas da tireoide e lúpus eritematoso sistêmico, por exemplo. Sendo assim, muitas vezes se faz necessária a reavaliação de exames de sangue.
Tratamento
Diversos tratamentos estão disponíveis para a alopecia areata. Medicações tópicas como minoxidil, corticoides e antralina podem ser associadas a tratamentos mais agressivos como sensibilizantes (difenciprona) ou metotrexate. Corticóides injetáveis podem ser usados em áreas bem delimitadas do couro cabeludo ou do corpo. Há diversas novas opções de tratamento sendo pesquisadas, como inibidores da JAK, imunobiológicos, inibidores de fosfodiesterase, anti-histamínicos e outros medicamentos. A opção de tratamento deve ser decidida pelo dermatologista em conjunto com o paciente. Os tratamentos visam controlar a doença, reduzir as falhas e evitar que novas surjam. Eles estimulam o folículo a produzir cabelo novamente, e precisam continuar até que a doença seja suprimida.
O impacto de certas doenças de pele na vida das pessoas afetadas
tende a ser subestimado ou até mesmo descartado como simplesmente um “problema cosmético”. A alopecia areata é um exemplo de tal condição, devido à substancial carga da doença e seus efeitos muitas vezes devastadores na qualidade de vida do paciente e autoestima, em especial em mulheres. Embora a doença não seja clinicamente grave, pode afetar o estado emocional do paciente. Desta forma, a conscientização da população, a empatia e o respeito aos pacientes com alopecia aerata são especialmente importantes no combate à condição.
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Referências
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