Sabe-se que atividade física e estimulação cognitiva podem mitigar o declínio cognitivo associado à idade, retardar o início de demências e aumentar a reserva cognitiva. No entanto, não há muitas informações na literatura científica sobre existirem diferenças de sexo e status de apolipoproteína E (APOE4, uma proteína relacionada com o desenvolvimento da doença de Alzheimer quando mutada) e atividades de estilo de vida e reserva cognitiva.
Neste sentido, um estudo publicado em 20 de julho de 2022 no periódico Neurology, a revista médica da Academia Americana de Neurologia, demonstrou que os benefícios de atividades físicas e cognitivas podem variar entre homens e mulheres.
O estudo analisou os efeitos de atividades físicas e mentais, como ler, estudar ou jogar cartas ou jogos, na reserva cognitiva nas áreas de velocidade de pensamento e memória. A reserva cognitiva é o amortecedor que ocorre quando as pessoas têm fortes habilidades de pensamento, mesmo quando seus cérebros mostram sinais das mudanças subjacentes associadas ao comprometimento cognitivo e à demência.
O estudo envolveu 758 pessoas com idade média de 76 anos do Washington Heights-Inwood Columbia Aging Cohort. Alguns participantes possuíam com cognição intacta, comprometimento cognitivo leve e outros demência.
Os pesquisadores calcularam os escores de reserva cognitiva para raciocínio e memória através do volume do hipocampo, volume total de substância cinzenta e volume de hiperintensidade de substância branca. A atividade física autorreferida foi avaliada por meio do Godin Leisure Time Exercise Questionnaire, convertido em equivalentes metabólicos (METS).
A atividade cognitiva autorreferida (COGACT) foi calculada como a soma de três perguntas sim/não: foi perguntado se havia participado de três tipos de atividades nos últimos 13 meses: leitura de revistas, jornais ou livros; ir às aulas; e jogar cartas, jogos ou bingo. As interações sexo por atividade e as análises estratificadas por sexo foram realizadas usando modelos de regressão linear multivariável, incluindo uma análise secundária com APOE4 como fator moderador.
Os autores observaram que cada atividade mental adicional da qual as pessoas participaram correspondeu a, em média, 13 anos a menos de envelhecimento em sua velocidade de processamento em habilidades de pensamento - 17 anos entre homens e 10 anos entre mulheres.
Eles também descobriram que mais atividade física estava associada a uma maior reserva de velocidade de pensamento em mulheres, mas não em homens. Com base nos tamanhos de efeito vistos no estudo, uma duplicação da quantidade de atividade física seria equivalente a cerca de 2,75 anos a menos de envelhecimento quando se trata da velocidade de processamento das mulheres em suas habilidades de pensamento.
Os pesquisadores também analisaram se a relação entre atividades físicas e mentais e reserva cognitiva foi afetada pelo gene APOE4. Eles descobriram que, para as mulheres, ter a mutação deste gene diminui os efeitos benéficos das atividades físicas e mentais na reserva cognitiva.
O estudo, no entanto, tem suas limitações. Uma destas foi o fato de que as pessoas relataram sua própria atividade física e mental. Além disso, fatores estruturais e sociais que sabidamente afetam a reserva cognitiva, como educação, não foram medidos no estudo. Por fim, este foi um estudo de associação, que não comprova que atividades físicas e mentais melhoram a reserva cognitiva.
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Referências:
Judy Pa, Vahan Aslanyan, Kaitlin B. Casaletto, Miguel Arce RenterÃa, Amal Harrati, Sarah E. Tom, Nicole Armstrong, Kumar Rajan, Justina Avila-Rieger, Yian Gu, Nicole Schupf, Jennifer J. Manly, Adam Brickman, Laura Zahodne. Effects of Sex, APOE4, and Lifestyle Activities on Cognitive Reserve in Older Adults. Neurology, 2022; 10.1212/WNL.0000000000200675 Disponível em https://n.neurology.org/content/early/2022/07/20/WNL.0000000000200675