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Maria Montessori: educar é o melhor remédio! - FINAL

Maria Montessori: educar é o melhor remédio! - FINAL
Luan Gustavo
nov. 4 - 7 min de leitura
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No texto de hoje eu concluo minha história sobre a médica italiana que abandonou o estetoscópio e se tornou uma das maiores educadoras do século XX. Obrigado ter acompanhado até aqui, nos vemos em breve!

A análise da efetividade do método continua...

Um dos estudos realizado em 2017 identificou que nem todas as comparações demonstraram diferenças, no entanto em crianças de 5 anos, alguns resultados foram favoráveis ao método Montessoriano, entre eles, as habilidades matemáticas, por exemplo. Em um grupo com crianças de 12 anos foram identificados resultados favoráveis ao método nas habilidades de escrever uma história e nas chamadas habilidades sociais. Em um questionário que perguntava como as crianças se sentiam em relação ao ambiente escolar, eles entenderam que os pequenos montessorianos tem um maior senso de comunidade. Esse estudo foi criticado por haver sido realizado levando em conta somente uma escola montessoriana e, o argumento dos autores foi o de que essa escola seguia à risca o método, sugerindo que os resultados poderiam ser generalizados. 

Um outro estudo realizado com crianças que tiveram o início de sua vida letiva em escola montessoriana também foi feito vários anos após elas deixarem esse método de ensino. Os autores combinaram fatores como gênero, condição econômica, etnicidade, etc. Em relação aos participantes que se encontravam em um mesmo estágio da vida adulta, mas que não haviam passado por escolas montessorianas na infância houve uma melhor pontuação dos montessorianos em matemática e ciências, mas não houve diferenças significativas em habilidades como estudos sociais e língua inglesa (esses estudos foram feitos nos EUA0.

Os autores argumentam que o tempo dedicado aos materiais matemáticos podem conferir alguma vantagem, ou seja, talvez não é que o método seja melhor, pode ser que esses alunos tenham passado mais horas semanais envolvidos com essa matéria, enquanto o tempo gasto aprendendo inglês e estudos sociais tenha sido o mesmo. E como a criança tem essa liberdade de trabalhar com o que ela quiser, a hora que ela quiser fica muito difícil mensurar isso, tanto que os autores do estudo foram incapazes de esclarecer esse ponto. 

 

 

Ouça esse episódio na íntegra clicando abaixo:

 

Embora a maioria dos estudos sejam focados em resultados acadêmicos tradicionais, alguns são focados em aspectos mais subjetivos como criatividade.

Um pequeno estudo comparou somente 14 crianças de escola Montessori e 14 de escola não montessoriana, crianças de 5 anos de idade. Na primeira tarefa, uma atividade não verbal, eles deram às crianças uma folha em branco, um molde em forma de jujuba e um lápis. Eles então pediram para as crianças desenharem algo em que o molde fosse integrado como parte da imagem, foram avaliados critérios como o título do desenho, atividade, originalidade e elaboração.

O grupo de alunos não montessorianos obteve uma pontuação duas vezes maior que o grupo de escolas Montessori. Na segunda tarefa as crianças foram solicitadas a fazer a descrição de alguns objetos como: uma bola de borracha vermelha, um cubo de madeira verde, uma peça de plástico transparente retangular e coisas do tipo. Eles avaliaram se as crianças descreveriam a forma do objeto ou se elas dariam alguma utilidade ao objeto. 

Essa tarefa diferenciou bastante os grupos, mas não pro lado de melhor ou pior, enquanto os alunos não montessorianos falaram mais sobre as funcionalidades, sugerindo o que daria pra ser feito com cada objeto, por exemplo, você brinca com a bolinha de borracha vermelha, os montessorianos focaram mais em descrever a forma do objeto, ‘isso é quadrado, isso é redondo, é feito de madeira’.

Em uma terceira tarefa as crianças tinham que encaixar peças em suas respectivas formas, ambas encaixaram bem com a diferença de que as montessorianas fizeram isso mais rapidamente.

A quarta e última tarefa desta experiência foi dar um lápis e papel para as crianças desenharem o que elas quisessem, a presença de figuras geométricas e de pessoas estavam sendo avaliadas pelos pesquisadores, enquanto nos desenhos montessorianos foram encontradas mais formas geométricas, nos não montessorianos foram encontrados mais figuras humanas. Os autores procuraram não fazer nenhum julgamento ante os resultados obtidos e, de novo, 28 estudantes não é uma mostra significativa.

Conclusão:

O estudo de 2017, que foi analisado para a confecção desse texto, conclui que o método Montessori já existe há 100 anos e isso se deve em partes a sua capacidade de adaptação ao longo dos anos. Entretanto, nesse processo de adaptação, a fidelidade ao método também acabou diminuindo. Eles dizem haver evidências de que se o método for estritamente aplicado pode haver algum benefício cognitivo e social para os estudantes, mas eles não conseguem afirmar se as "versões adaptadas” do método, em que as crianças basicamente passam menos tempo com os materiais que elas escolhem, são de fato efetivos.

Em relação a ausência de premiações, a falta de ênfase em provas e exames, ao fato de crianças mais velhas e mais novas serem colocadas numa mesma sala visando essa troca de informações em que os mais velhos ensinam os mais novos, há a necessidade estudos mais específicos para comprovar algum possível benefício dessas estratégias. Algo que não foi abordado por Montessori, mas que atualmente aparece como uma possibilidade é o uso do método em idosos que sofrem de mal de Alzheimer, pois existem evidências de que isso seria benéfico aos idosos melhorando suas capacidades motoras, cognitivas e sua sensação de bem-estar. Uma outra possibilidade de uso do método com idosos seria integrá-los em classes com as crianças pré-escolares. Benefícios para idosos foram relatados nesses casos e certamente as crianças também têm muito a ganhar com esse tipo de experiência.

Perdeu os textos anteriores? Clique e leia todos

Referências: 

Chloë Marshall, Montessori education: a review of the evidence base, npj Science of Learning (2017) 2:11 ; doi:10.1038/s41539-017-0012-7

Cristina De Stefano, Il bambino è il maestro, Rizzoli da Mondadori Libri S.p.A., 2020

Barbara Thayer-Bacon, Maria Montessori: Education for Peace, in factis pax, journal of peace education and social justice, Volume 5 Number 3 (2011): 307-319

Barbara Thayer-Bacon, Maria Montessori, John Dewey, and William H. Kilpatrick, E&C/Education and Culture 28 (1) (2012): 3-20

Lillard, Paula Polk Método Montessori : uma introdução para pais e professores / Paula Polk Lillard ; [tradução Sonia Augusto]. — Barucri : Manolc. 2017.


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