O índice glicêmico (IG) de um alimento é uma medida introduzida em 1981 como forma de classificar os alimentos de acordo com seus efeitos na glicemia pós-prandial. Atualmente existe a hipótese de que os alimentos com alto IG promovem o armazenamento de gordura e aumentam o risco de obesidade, por causarem um rápido aumento na glicemia e na consequente secreção de insulina, e que os alimentos com baixo IG fazem o oposto.
Entretanto, um artigo recentemente publicado no periódico Advances in Nutrition, uma revista da Sociedade Americana de Nutrição revisada por pares, conclui que alimentos com alto índice glicêmico (geralmente chamados de “carboidratos rápidos”) não causam maior ganho de peso do que alimentos de baixo IG (geralmente chamados de “carboidratos lentos”) – e também não causam menos emagrecimento quando presentes em uma dieta hipocalórica.
O estudo avaliou dados de 43 coortes de 34 publicações (abrangendo quase dois milhões de adultos), encontradas nas bases de dados científicos PubMed e no Cochrane Database of Systematic Reviews que comparavam dietas para emagrecimento com baixo e alto IG, com o intuito de avaliar se o índice glicêmico da dieta afeta de fato o peso corporal.
Nos 27 estudos de coorte que relataram resultados de comparações estatísticas, 70% mostraram que o IMC não diferiu entre os grupos de IG mais alto e mais baixo (12 de 27 coortes) ou que o IMC era menor no grupo de IG mais alto (7 de 27 coortes). Além disso, os resultados de 30 meta-análises de ensaios clínicos randomizados de 8 publicações demonstraram que as dietas de baixo IG em geral não tiveram melhores resultados do que as dietas de alto IG para reduzir o peso ou o percentual de gordura corporal.
Entretanto, os autores observaram que as dietas de baixo IG com um IG dietético pelo menos 20 unidades menor do que a dieta de comparação resultaram em maior perda de peso em adultos com tolerância normal à glicose. Tal desfecho, no entanto, não foi encontrado para adultos com tolerância diminuída à glicose.
Em termos mais simples, a conclusão geral do estudo foi que “o IG, como medida da qualidade dos carboidratos, parece ser relativamente sem importância como determinante do IMC ou da perda de peso induzida pela dieta”. Densidade de nutrientes, fibra alimentar e quantidade de açúcar adicionado são qualidades mais importantes na alimentação como um contexto.
Ainda segundo os autores, o estudo também destaca a importância se dar a devida atenção aos muitos nutrientes positivos que os alimentos com carboidratos básicos. A principal conclusão é que os carboidratos, independentemente do tipo, podem fazer parte de uma dieta saudável e ter um lugar em um prato saudável.
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Referências:
Gaesser GA, Miller Jones J, Angadi SS. Perspective: Does Glycemic Index Matter for Weight Loss and Obesity Prevention? Examination of the Evidence on "Fast" Compared with "Slow" Carbs. Adv Nutr. 2021 Dec 1;12(6):2076-2084. doi: 10.1093/advances/nmab093. PMID: 34352885; PMCID: PMC8634321. Disponível em https://academic.oup.com/advances/article/12/6/2076/6342518?login=false